Revista da Academia Paraense de Letras 1950
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 67 de vista. no entanto. se bem não fôra precipitado modificou-se mais tarde, à proporção da sua persistência. da persistência do famigera• do ricaço no emprego dos seus milhões em negócio de tão demorados resultados. Foi aí que descobri o humanista indicado acima. a quem comecei a ver com indulgência e simpatia, longe do espírito impe– r ialista que muitos lhe atribuíam. Em sua tebaida de Detroit. eu o observava, vendo-o a estender a vista para todos os hemisférios prescrutando rn horizontes e a ensinar ao mundo os seus métodos ãe trabalho, orientados por um ritmo novo da vida de fraternidade e igualdade, dentro de um sentido de amôr, que impressionava. ecoan– do pelas quebradas do universo industrial. Eu me perguntava a mim próprl.o: que homem extraordinário é este, que rompe com a rotina, que irmana os operários. na mais ni– tida compreensão do direito e da justiça? Será um Cristo. de nova espécie, a perambular na vida terrena, um idealista concréto. para– doxal e surpreendente? No turbilhão do temp-o as horas correram. e Henry Ford en– velheceu na luta com as indústrias. Passaram, os an,,s e êle era o mesmo homem, para mim, - aquêle hwnanista, o que construia para o futuro ... Vivi. por acaso, essa travessia, embalado num sonho? Foi tudo uma ilusão, aquilo que eu pensava definisse Henry Ford? Que signi– ficava sua tenacidade no cometimento da concessão d<> baixo Ama-. zonas? Conquista territorial ou interpresa, de fato, de um espírito alcançando um dia distante, - quando já, porventura esquecido, - uma obra formidável em sólo extrangeiro, erguida em nome da Hu– manidade? Cruel. vertiginoso minuto, incerto e desgraçado ,o que trans– corre na vida dos povos! Tanta apreensão, tanta ansiedade, modifi– caram o espírito e o coração de Henry Ford, transformando-o no he– reje, no blásfemo da entrevista que acaba de conceder a certo jornal americ.ano? Nas suas declarações de agora revelou-se o purista do outróra? Não, por ventura. Ment:u ao seu passado ou era então um hipocrita? Ou estará nesta h ora amarga, de miólo móle, pelos anos e pelas trabalheiras? Est ou a desiludir-me ... o antigo amigo de Edson, seu companheiro de teosofismo. ao que vejo sempre seria um fingido? Sob a capa do construtor do fu– turo esteve sempre o industrial Ford, o Ford dos automoveis. o F01•ct de Detroit, dos carr0S precários e baratos, das peças e accessórtos dos lucros embuçados? o moralista que pretendia acompanhar Edson nos princípios sãos que guiav.am o genial inventor, não era a-0 que parece. o que mostrava ser. O que fazia era tornar a doutrina teosofica em indus– tria visando maior poder do seu negócio. O seu temperamento co– m,ercieiro não podia condizer-se com o idealismo do pai da eletri– cidade . Fui um trouxa. Ford enganou-me, como ludibriára a Edson. são suas estas palavras cínicas: "Deveriamos fornecer à Ingla– terra e ao Eixo o necessário para que mantenham a lut!!. até que am– bos se desmoronem. Não há virtude em nenhuma d.as respectivas camisas. Ambas inspiram o mesmo impulso maligno da cubiça". como? Não há convicção na contenda infernal? Não se extra– cinham as nações em luta por um ideal, por um desejo, por uma fi– nalidade de car.ater racial politico industrial comercial; por um sistema de governo. uma nova ordem' de coisas na' sociedade e na ad-
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