Revista da Academia Paraense de Letras 1950
56 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Aquéla música evóca e vive, Em danças móles e loucas, Cismas e dolências·nêgras, Fetichismos de ritos nêgros, Vícios tristes e rudes amores, Naquêles corpos, naquelas bôcas, Naquelas almas. brancas, cabôclas, mulatas ,nêgras, Rolam saudades, manlías e afágos, Vibram fragôres ,aterradores. "Salve, Ogum! Xangô! Yemanjá! ... "Baía! .terra de Aruanda, Saravá!" A cidade está fria. Trazida, pelo vento plácido, Outra vês, das bandas do mar, Vêm a toada que me faz penar Na vida erradia Que ando a penar. Cêdo, de mim vos fôstes, velhos sonhos, velhos Sonhos de ser, no mundo o Semeador, Que saísse a ·semear o Eviangelho do Amor. Nesta hora calma Que irn,prégna e àvassála a minha alma, Tenho vontade de nJ,e pôr ,de joêlhos Um desejo infinito de chorar ' E de orar ... A noite derrama-se, de~ar. .. Na doçura do anoitecer, Revêjo os caminhos que tenho andado·... E irrompe um pranto dei;esperado... Porque não tenho sido, nesta vida A flôr e o fruto, que devêra ser. ' Rio de Janeiro, 1949 . A ESTATUADO PROGRESSO (INÁCIO MOURA) Será das mãos calosas do operário que a estátua do progresso há de surgir. 1!:ste século é o grande itinerário De um século de Raz que inda há de vir. Quando Cristo, do cimo do Calvário, no templo do futuro ressurgir d'uma oficina fará o seu sacrário A serra, o malho à Cruz terá de •unir. ' Ide avante, mineiros d'um tesouro E fazendo da escola o alvião ' Do craneo do artista tirai ouro, O Brasil ergue a voz de saudação: - Fazei da Pátria um pedestral de louro, no braço d'esta nova: legião!
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