Revista da Academia Paraense de Letras 1950

REVISTA DA ACADEMIA P:ARAENSE DE LETRAS 55 'Viveram, ou viverão, como abraçados, uma paixão distante, transitória? ... Si a lua é uma saudade na memória, o mar é a ardência dos apaixonados. Piedosamente, a lua, ungindo as águas, é um sudário de luz, todo segredos, para o mar, que espumeja entre penedos. E freme o m.ar. . . A lua ascende em máguas ... E êsse amor que é delirio e ânsias calmas, é o incompreendido amor em nossas almas ... A cidade, numa tarde fria (Poemeto de SEVERlliO SILVA) Deixo, na tarde fria, o meu refúgio ameno Onde refino o coração e o pensanrento, ' E côrro para a vida tumultuária, Fol1ja de luta e de dôr. O ar frio, confidencial, ser-eno Fala, na música do vento ' Do pobre amôr, do eterno 'amôr. A rua longa estira-se sombria. E eu ouço palavras picadas de frio E eu vejo corpo~ mordidos de frio ' Gestos frios e passos frios • No asfalto longo da .rua fria ... O iar sonolento Repete velha ctntiga, Que vem das ~andas do mar. Ela recorda uma voz amiga, Que me embalava na fortuna e na tormenta. - E viveu e morreu a cantar. Olho o cáis, o movimento Dos obreiros fórtes. . . Os amigos, sorrindo e chorando . .. Os navios, que vão e vêm.. . Sábado frio Cidade triste .. . Mas no verbo canóro e bárbaro Do trovadôr cantando ao violão, Há vibrações e convulsões telúricas, Que emergem do fundo do chão, Com um gôsto tropical de angústia e solidão . E' ,a música ancestral, de ternuras nativas Dos três sangues, das três raças, ' Que formaram a gente brasileira...

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