Revista da Academia Paraense de Letras 1950

• "A Corrida do Facho VítaÍ ,, RAINERO MAROJA Louvo, entusiásticamente, o professor J. M. Hesketh Condurú pela publicação de mais um livro. ··Alcancei o tempo em que era relativamente fácil editar um vo– lume: Quase dependia de disposição para escrevê-lo. O livreiro era amigo do autor. O papel e a tinta valiam nada. O tipógrafo compu– nha· submisso, letra por letra ·mergulhando os dedos encardidos nos cachotins.., tocado de emoção: sonhando que era seu o produto da im,ag_inaçao e do saber alheio, percebendo à luz de misera lampari,• na , um nadinha com que arranjava o sustento. Sentia-se feliz quan– do o autor lhe oferecia um fato surrado que nos dias de gala, iria b'.lncar vida nova nas costas do pobretão'. Também tudo era tão ba– rato, que, em se contando aos moços de hoje passa a gente por mentiroso . • Mudou o tempo. O tostão, sem prestígio circulante, de nome mu_dado, transforma-se em raridade para colecionadores. A moe– f.linhiai de cincoenta centavos inculca-se como mínimo divisionário nns bondes de cruzado ou em qualquer parte. E ensaiam impôr um cru– zeiro em seu lugar, porém, evidentemente, poucas migalhas custam menos de um centenário. O preço, que era como preguiça real cochilando no galho de i.mbaúba, virou gavião real, a voar pelas máximas alturas das mon– tanhas da carestia. Os maiorais do comércio e das indústrias diver– tem-se empinando o preço como os garotos e~pinam papagáio. Di– vertem-se comerciantes e industriais, disputando o primado na luta cl~ saco de areia da carestia. Os senhores da situação governamen– tal, por outro lado, divertem-se também, desconhecendo a dôr da ' carest ia, porque o que ganham chega para tudo. E não se apiadam do pobre, cujo salário mal dá para o rabinho de pirarucú ardido e o punhado de farinha de porco ,de que o porco não vê um grânulo. Num tempo assim em que a gente escreve em papel de embru– lho poupando-o como se escrevesse em pergaminho; num tempo as– E:im, em que a giente não sabe se desemaranhar do tir.irical da car':!s– tía ·bem merece louvores quem num meio desencoraJador. se afoita a publicar um livro. • Ainda bem que o livro do professor Hesketh Condurú merece acolhida a troco do sacrifício. Quanto vale o trabalho que ora me prende à banca, di:-1.o. em síntese impecavel De Campos Ribeiro, a quem a fortuna pe~m1t1u en– contrar na oairrelra profissional flórida mésse de inspiraçao para o ta lento poético ,

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