Revista da Academia Paraense de Letras 1950

40 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS r.:Prtos deveres. Exerceu a clínica sem distinguir os afortunados di1 vida dos que a sorte não bafejou. Tinha para tcdos o mesmo sorriso da bondade e a mesma atenciosa solicitude . Cultivou no convivia social os princípios da educação recebidos no lar; educação que é indulgência, compreensã.o e fidalguia de trato :;em o exagêro dcs elogios sistemáticos ; que não é uma leve ca.maci~L de verniz capaz de desaparecer ao m·ais ligeiro atrito e sim uma atitu– de permanente de alerta do homem civilizado contra as arestas nat u– rais da luta pela vida; que não é prova de fraqueza como alguns er– r~damente j ulgam, mas que é, pelo contrário,-fôrça 'de domínio sôbrc s1 mesmo capaz de vencer as explosões do homem primitivo que vive· dentro de todos nós. Modesto por princípio, afastou da sua personalidade o caboti– nismo que lança mão de si mesmo para conquistar v1tóriB,s efêmeras. A sua capacidade profissional foi a única arma que usou para obt er uma vasta clientela. Nesse cortejo de sofredores dedicou especial cuidado aos mais duramente atingidos pelo destino : os psicopatas e os leprosos. A psiquiatria, no velho mundo, dera passos agigantados modifi– cando de maneira fundamental o tratamento dos doentes nervosos e 1nentais. Pinel em França, Chiarugi na Itália e Howard na Ingla– r erra, haviam quebrado os grilhões dos loucos, tr.a.tados até então, mais como criminosos do que como doentes "vivendo acorrentados e abandonados ao tratamento de indivídus cruéis e ignorantes", na fra- se de Castigl!oni. · Felipe Pinel inegàvelmente o maior dêsses reformadores. obteve licença d a Assembléia Nacional franceza para retirar os grilhões de quarenta e nove loucos do hospital de Bicêti:e. ~se fato marcou o ini– cio de uma nova era para todcs os infelizes que perdessem a luz df~ razão. Os demais países europeus, uns apqs outros, seguiram_ o salutar exemplo. Reil, avançando ainda mais, conseguiu a construçao de. hos · :pitais ajardinados c-cmo parte eficiente do tratamento dos allena– dos. E' fácil imaginar a luta que êsses reformadores tiveram de sus · tentar contra os reacioná rios e as ,autoridades até que conseguissem provar a eficácia do novo e humanitário tratamento. Renrio neste momento a minha homenagem a êsses pioneiros que, a lém de darem ma is uma volta na roda da ciência em luta vitoricsa contra a ignorância e o preconceito, arrancaram os loucos do fundo cias enxovias. :E;sses .accntecimentos se desenrolaram no século XVIII e servi– l'am de base indestrutível aos preceitos da moderna psiquiatria ini– ciada no século passado . Foi neste período que a fisiológia do sis– t ema nervoso encc,ntrou solução para vários e lntrln~ados problemas, figurando a neurologia como disciplina independen te. Avult a, nessa fase, a figura de Charcot, êsse genial Jean Martin Charcot. uma das maiores glórias da medicina francêsa perpetuado no bronze de um monumento erigido em frente à Salpetriere. Ai doutrinou C?m a cla– •reza de um perfeito didata com a elegância de estilista primoroso e e.cm uma soma apr eciável de novos conhecimento:, . Não lhe faltan– •do o método e a energia dos organizadores criou a maior das clínica:. neurológ;icas do século. Fa lecendo, em 1893, deixou um grupo de dis– cípulos dedicados e entusiastas continuadores de sua grande tarefa de fundador da mrderna neurologia. Dez anos depois da sua morte, quando êsses discípulos conti– n uavam e R.perieiçoavam os novos conhecimen t os na clínica da Sal- ..;..

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