Revista da Academia Paraense de Letras 1950
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 35 a concluir, a lançar novas luzes sobre o mais agitado periodo histórico do Pará e quiçá da Amazônia. O 4. 0 volume dos "MOTINS", editado ainda pela Tipografia Hamburgueza do Lobão surgiu em 1884, traçando de maneira mais forte o perfil da cabanageni. Temos a impressão que Raiol escreveu os capitulos desse volu– me tend:> sempre diante dos seus olhos a imagem do pai. Não lhe podia ter saido do espirito aquela cêna trágica do Trem de G;uerra. Por mais justas que fossem as suas conclusões, por mais honesto que fosse o seu intuito, por mais austero que fosse o seu desejo df' julgar os acontecimentos que narrava com a inflexibilidade tão pró– pria do historiador, algumas· vezes deixava-se trair pela imensa sau– dade do seu pai. Assim pudesse e repetiria como Alberto Oliveira: ·"O' a saudade, poeta, é uma ressurreição". E Raio! de~ava transparecer nas próprias páginas do seu livro, substituindo por vezes a austeridade do historiador pelo sentimen– talismo do filho, a grande mágua que lhe ia no coração. Assim era que dizia, à página 387, do 4. 0 volume dos "M<Yr!NS": "- Comemorando os acontecimentos da provinda, fazemos reviver do passado os varões que m,ais ou menos representaram neles, e não é muito que nestas singelas li– nhas rendamos culto à memória ô.o cidadão que nos ·deu o ser. · E' dever sagrado do filho guardar no santuário do coração a imagem querida de seus progenitores. cei;can– do-os sempre de amor de respeito e veneração durante a vida e honrando nà campa .a lembrança saudosa de seus nomes. .. Seja-nos, pois, licito pagar neste momento o nosso sincero tributo de reverência filial, gravando aqui a me– moria desse patriota que também caiu_ aos golpes da anarquia na data mais calamitosa da h~ria paraense. E queiram os céus que no modesto trabalho .do filho pos– sa o pai encontrar um monumento embora rude e sim– ples, capaz de guardar o seu nome' contra a ação corro– siva do tempo". O historiador traía a sua preferência; porém, o filho, sabia ser digno da memória de seu pai. E' que aquelas almas estavam identüicadas pelo afeto. irmana.– das pelas mesmas contingências. Delas diríamos como o poeta maranhense dizia dos coraçõe~ a.mantes: ''Póde o raio num píncaro caindo to_rná-lo ·dois, e o mar correr entre ambos; IPOde rachar o tronco levantado e dois cimos depois verem-se erguidos, sinais mostrando da aliança antiga; dois corações, porém, que juntos batem, que juntos vivem - se os separn.m, morrem .. :" •
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