Revista da Academia Paraense de Letras 1950

1 Discurso de posse ERNESTO CRUZ Ao empossar-se na cadeira do Barão de Guajará - Domingos Antonio Rayol - na sessão de 20 de novembro de 1946 o acadêmico Ernesto Cruz proferiu o seguinte discurno: ' Senhores! Esta solenidade é uma exigência estatutária . Cumpro com imen– sa alegria espir~tual as determinações do regulamento, e com grande emoção penetro os umbrais des~a casa, para pem1anecer, em definiti– vo, na vossa honrosa c.ompanh1a. Há alguns anos passados me foi dada a oportunidade de per~ correr o velho e histórico ~alácio da Quinta da Bôa Vista que guar- da as reminiscências da corte brasileira. • Senti, confesso, profunda emoção. Enquanto as pessôas que me acompanhavam entretinham-se na contemplação das preciosas coleções do Museu Nacional, eu me dei– xava ficar, perturbado e silencioso junto à escada que o senhor d. João VI, havia subido e descido tantas vezes, E: por onde também de'>– ceram e subiram, nos dias agitados do chamado primeiro império, o senhor mi.pistro José Bonifácio, a imperat.riz dona Amélia, aquele i'!"-· requieto d. Pedro I.,, e as damas famosas nos seus vestidos de rendas e tafetá chamialotaao, e os moços fidalgos nas suas casacas de setim c babados de rendas e meias longas . .. Vi passarem pelos meus olhos como se fôra eu próprio person~-– gem daquela époc.a faustosa, os mais notáveis vultcs do ciclo im– perial. Todos atravessaram aqueles mesmos cor!'edores nos dias solene!; do beija-mão. Caminhavam os homens dentro das suas casacas e fardas vistosas com aquela soberbia palaciana, que tanto desagradava o imperial amigo do Chalaça; enquanto as damas passavam, airosas e perfuma– das, tendo como no verso do poeta, " . . . a forma harmoniosa de uma lira e o silencioso caminhar de uma onda". E de quem poderia dizer como aquele outro vate, que andavam, " . . . com passos breves e calados soturnos, - como o divagar da noite. .. " Quanto tempo fiquei ali, não me recordo. Lembro-me, apenas, da emoção que me dominava impedindo-me que fosse além . Tenho para mim, que a Academia possue aquele mes– mo mágico domínio que me deteve no Paço Imperial.

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