Revista da Academia Paraense de Letras 1950

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 29 nos havia desperbado os sentimentos de democracia que nos deveriam ter nor~eado até hoje. Mais tarde, por ocasião das eleições presidenciais em que con– correu com o dr. Epitacio Pessôa, tivemos oportunidade de ouvir uma nova doutrinação, em que o seu culto espírito se haveria de dar, de novo a nós prodigamente, com uma prodigalidade de nababo, pre– gando os bons princípios que, fielmente praticados, teriam concorri– do para a felicidade do Brasil. Mas as suas palavras, ainda desta vez, não frutifioa.ram. Faltava ás consciências aquilo que para elas é o mesmo que é o azoto para a terra, sem o qual não lhe podem ser proveitosos os próprios raios s.'>– Jares". o Brasil tinha uma grande divida de gratidão para com Rui Barbosa que não soube cu não a quis cumprir: fazê-lo Presidente da República para que melhor pudesse pôr em prática os bélos ensina– mentos democraticos que a sua palavra quente e máscula tão bem soube pregar. Nem mesmo a mocidade, de cuja educação foi .º !?ª– ladino sem igual, o ,acompanhou com o fogo sagrado que a vivifica para tornar realidade o desejo incontido de milhares de brasileiros. E' que o maior obstáculo realmente existia na politics. bastarda e sem entranhas que banto tem concorrido para que o vocabulo "político" .-;eja hoje identificado e lamentavelmente confundido com o vocabu1o corrupção. Entretanto, a politica é uma ciência: a ciência de gover– nar. E se todos assim· o compreendessem, não se teria estabelecido até hoje o horror que todos sent~m em pronunciá-lo, como se fosse uin estigma de que os próprios politicos procuram fugir horrorisados.. Tratando de assunto que se relacionava com a cduc.ação da mo– cidade, dizia Rui Barbosa numa oração de paranínfo: "A hostia e o arado a palavra correspondem aos três sacerdócios do Senhor. Mas a suprema santificação da linguagem humana, abaixo da prece. está no ensino da mocidade. O lavrador deste chão devía amanhá-lo de joelhos. Crêde que me ,acho realmente sob esta impressão como se ao receber da minha companheira um filho recem-nascido. uma voz do interior me segredasse: Purifica o. teu halito que lhe vai insuflar a vida ou morte". Entretanto, manda a justiça que se digia que nem tudo est:'. perdido. Assim como diante de Machado de Assis moribundo um moco desconhecido fez questão de se aproximar do leito daquele notavel romancista, para de joelhos, lhe beijar as mãos assim também pnr o(;asião das eleições presidenciais em que se càndidatava Rui Bar– tc•sa, um moço tomou da cedula, com o seu nome incorruptível, paro a colocar na urna de joelhos, depois de a haver osculado com infini– to respeito. Este fato se passou na capital baiana e foi relatado péla Imprensa do país inteiro. Naquele momento glorioso o gesto louvavel daquele moço, só por si, salvou a honra da mocidade contemporânea. . Só os moços, com.efeito, s_ão c.apazes de Un>..a. açã.o de tal modo edificante. Ocorre, porem - e e uma circunstância aue eu quero det– xar aqui consignaçla: Que na última campanha oresidencial em qn'? Rui Barbosa se viu envolvido, só dois Estados da Fednação Brasileira cleram o seu apoio oficial à sua candidatur,a: um foi a imortal terr:>. do seu nasdmento - a heroica Bahia e o outro o ot~tro... foi a não menos heróica terra de Giurjão e de Batista Campos o nosso Pará, de tão belas tradições e de tão giiande c-0ragem civica . ·

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