Revista da Academia Paraense de Letras 1950
22 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS -Excelência, somos estudantes e temos um grande anseio -te publicar um jornalzinho literário, mas falta-nos ·recursos. O senhor aniversária no próximo dia 9, e queriamos ter a satisfação de pu– blicar a nossa folha em vossa homenagem. O grande politico riu, e perguntou bondosamente: -E o que é preciso? -Que V. Ex.eia. nos dê uma recomendação para o "Diário Ofi- cial" do Estado. -;Perfeitamente, disse. Pediu um lapis de côr ,e ali mesmo assi– nou uma ordem categórica. Tudo sem falsa modestia, num gesto afável e protetor. Aquilo nos cativou profundamente. Saimos._e eles continuaram a..partida interrompida. -Vamos ser distinto, mas esse sujeito é um verdadeiro fidalr,o, disse Randolfo . E era. Até nisso ele se parecia com Henrique IV. Nós tinhamas a nossa materia para o jornal, mas era necessário um nome feito para lhe dar prestigio. E Randolfo Serrão nos pôs em comunicação com Terêncio Porto. Era ele então, um escritor muito em voga. Colabol'ava na "A Província do Pará" e na "Folha do Norte" . Era Guarda Aduaneiro e nascera em s ·ão Paulo. Quando leio a critica sobre Antero de Quental, feita por Eça da Queiroz, lembro~me de Terêncio. Nunca tinha visto tanta inteligên– cia, bondade e modestia reunidas numa só pessôa. Era um tipo branco baixo de cabeça gnande, ares tímidos e fei– ção de sonhador. As suàs séries de contos tinham um alto sabor es– piritual. "Visionários", "No barranco", "Preto no Branco". "Alma boêmia", era uma nova escola que se estadeava, cheia de beleza, emo– tividade e naturalismo. A sua arte se assemelhava a um Coelho Neto temperado de Cruz e Sousa. E fez época, pela novidade trágica com que decantava epi– sodios da plêbe, num realismo cheio de comiseração de ternura. Por esse tempo saiu à publicidade, editado pela casa de Lisbôa, Aillaud, Alves Bastos & Cia .• o seu primeiro livro: "PELA VIDA", tendo uma segunda parte: "PELO SONHO". Foi um triunfo . O li– vro de Terêncio apareceu como obra esmerada e perfeita. Alguem, dêle disse: "E' de um realismo todo temperado de sentimentalidade" . Contos de uma singular beleza emocional e analítica. "Na lama" "Angustia" "Bonança" "A vaia" "Vingança" "Pá– gina branca", é'toda uma gàleria de quàdros, onde os altos e Ôs bai– xos da miseria, vistos pela interpretação artistica de Terêncio, dei– xa-nos Ilia retentiva, aquela mesma impressão dolorosa, que é a ca– racteristica dos novelistas russos. Pois é como um escritor nihilista daquela torturada fase da Russia dos Czares, que Terêncio traçou os seus quadros humanos da desgraça. A ,alma nas personagens de Terêncio são dotadas assin}. daque– les extremos que caracterizam as organizações primitivas: - ou bon– dade imensa ou profunda maldade. Não há' ali a crueldade interesseira que é um fruto da civili- zação. ' ,Depois, é o destino sombrio, implaoavel, por isso que, originá– rio dum determinismo psíquico subvertendo as iniciativas corajosas, e afogando os naturais anseios de uma felicidade quimérica. Na segunda parte de seu livro, intitulada "PELO SONHIO", o que .se lê, é a inspiração de um poeta ,poeta mistico, poeta súnbolista, em 1 l 1
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