Revista da Academia Paraense de Letras 1950

16 REVISTA DA ACADEMIA P.ARAENSE DE LETRAS tusiasmo de visionário e toda a embriaguês que domina o incauto ban– deirante no seu avanço luminoso, penetrando as brenhas da terra fenom.inal cêdo se dosmoronam, e o homem vê-se derrotado pela adversidade da região•, vencido pelas féras, pelas pragas daninhas de insetos e aniquilado pela inviasão dos mdrob:os sorrateiros das ende– m.ias. E o homem, ontem sonhador ousado, desgraçadamente domado pelos horrores que infestam a Canaan imatura, assiste ao extermí– nio do rebanho d.as suas ambições. A própria natureza, no seu pro– cesso de metamorfoses repele-o com a furia agigantada da sua força indomesticável. ' ' A luta entre o h cmem e a terra é um prél:o de desigualdade. Esta, no viço triunfante da imaturidade, violentamente desapied:.1da, vertiginosamente bravia, investe contra o inimigo, pr~str~ o invasor intemerato, mas recebe, consequentemente como trofe.u a sua fero– cidade destruidora, o retardamento do seu progresso . . Se a evolução da Amazônia se retarda tudo se assenta na defi– ciência do seu povcamento. Falta-lhe um trabalho técnico e intensi– vo para transpôr a mw·alha desta verdade inconteste . Os anos se vão decorrendo, as tentativas de coloni~ação vão so– frendo os efeitos da despreocupação dos governos interessados e por jsso até hoje a Amazônia é ainda a mesma terra aue adormece aos cânticos de um ilusorio re1juvenescimento. E' a mesma Promissão de sempre afagada pelas promessas de ressurreicã,o. Tudo no grande va– le, é o primitivo, e o El-Dorado continua sendÓ olhlado pelos forasteiros através dos priran.as exager ados ela beleza e da exuberância. Para os 11ativos, porém, a terra moça é a mesma vastidão do ouro x:iegro, da 1:ast~nha e das madeiras, emoldurada pela rruusicação maravilhosa da poesia. . . A Amazônia clama por um povo que a transmude dessa insub– missa prodigalidade de frondes e utop.as para o magestoso deslum– bramento da realidade. N.ão obstante, a fereza das inteml)eries e o cortejo de vici.ssi_t~– des que se rasgam, em borbotões. na vidia tumultuária da plam~1e equatorial, se tantas levas invasoras têm sofrido a violência dos m:is– tério.s e fenômenrs da região até hoje só O elemento nordestino. em cujo coeficiente avulta a tenacidade indomável do cearense. tem re– sistido à luba contra a própria indemência do chão e da floresta bárbara. Os intrép:dos filhos dos sertões do ceará escaldadcs pelo sol esbrazeante do nordeste e estropiados pelas sêcas devastadoras. ati– ra~os aqui na solidão da floresta, valentes pelo tempe11amento. guer– re1ando a selva que assombra e invadindo-a aos palmos, bravamentE', foram povoar os fabulosos rincões do Acre e triansformados em he– róis, ~ol_onizaram a via ferrea de Bragança ' e recantos diversos, da Amazoma. Os cearenses, na bravura nata com que preliam nas pequenas )angadas contra o rugir amedrontador dos vagalhões do oceano. num orgulho transcendental, fizeram a mais perfeita trasladação d:3- su_n vida e dos seus usos. dos seus costumes e hábitos para os sermga1s ac1,eanos e lugares que habitam na porção fascinadora dos trópicos. _ Cheg_ados à Amaz~nia ,na sedução inebriante do retorno ao tor– rao d~ ~:mge~. conduzn~do as sonhadas riquezas, so~raçand9 o om:o aimazomco, n ao se extasiaram somente com a extraçao da hevea mi– raculosa. E, derrubando árvores devastando o Paraiso que se alaga em opulencias inexgotáveis, introduziram novas fontes de renda e de

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