Revista da Academia Paraense de Letras 1950

1 ry Á. Desbravadores do El Dorado WENCESLAU COSTA A Amazônia, na desconformidade da sua magnüicênc'ia. desde o seu pórtico assombradorainente prodigioso. onde, no estuário cicló– pico do Grande Rio, se banham multidões de ilhas, até atingir a lon– gínqua cordilheira dcs Andes, é um vasto território que esconde no regaço as mais exquisitias variedades de riquezas e que está. até ago– ra a esperar por tudo o que venha desencantá-lo deste marasmo e desta cortina de fantasmagorias com que é olhado pelos que se em– balam na delirante orquestração dos sonhos e das ilusões. E' tun mundo vertiginosamente espantoso pela extensão das suas ten·as; poderosamente opulento pela grandeza dos seus tesouros que dormem à mercê da Natureaz farta, sem que os desvend~m dos 'mis– térios em que, por tantos séculos, vivem na virgindade dos infindá– veis recantos do El-Dorado. E porque a Amazônia seja esta imensidade desconhecida, a des– fiar lendas multicôres e superstições de vivas tonalidades. estoica– mente cresce a audacia dos que tentam tocar-lhe nas jazidas de ouro escondidas na avareza imperturbav-el do conturbado sólo do equa.= dor que se estorce na agônia asfixiante da sua atmosfera. torrida. ' Quantas maravilhas na cenografia dos panoramas extensos. onde se fundem os matizes apoteoticos dos horizontes e a desvairança das águas que se .estendem pelos sulcos e desvãos da terra. na volutuo– sa formação de !ages e coleantes paranás, águas em abundância que vão retalhando a planície, onde se forma o mais rendilhado e incon– cebível dos labirintos fluviais. Dir-se-á que o Amazonas, a estender o caudal volumoso pelas terras constantemente em mutações, recebendo afluentes 'rumorosos e confluentes encachoeirados, em que ora se vêm barrancos desnudos e outras vezes se alongam os estirões ou as areias alvas das praias · nas quais pairam cismarentas legiões de aves aquáticas é um polvo gigantesco. de mil tentáculos, a infiltrá-los pela gleba onde Orelana defrontando as ic:amiábas, semeou a lenda das mulheres belicosas das margens do Nhamundá. Embora hordas de h omens corajosos tenham tentado desbravar o sólo hostil do admdravel vale amazônico, a terra núma agitação ininterrupta antepondo obice à bravura e à valentia do braço hu– mano a broquela-se na sua rebeldia perpetua e traiçoeiramente ao lento deslisar do tempo, acaba conquistando o gàlardão do triunfo. Na couraça do seu arrojo, na fortaleza impávida da sua coragem, o homem pisa-a cheio de esperança; invade-a, embalado pelo es– plendor dos seus' tesouros nativos e interna-se, cada vez mais. nas suas matas na volupia embriagante de dominá-la . Mas o homem é o vencido eterno! Luta contra os segredos do clima; peleja contra. a própria potencialidade da selva e, como a rigidês de um rochedo com.– bate a .orgulhosa. grandiosidade das águas. Toda a febre do seu en-

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