Revista da Academia Paraense de Letras 1950
12 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS' que trabalhava de sol a sol, em maioria escravcs, po:s tudo isso era ... antes do 13 de Iv.1:aio de 1888. Entre as quatro paredes da casa da escola, em que nasci, e o "Fortaleza" esverdeava ou embranquiçava a "bagaceira". que era a cc·bertura de todo o terreiro pelo que a moenda regeitava e que os trabaihaãores estendiam ao sol, para, quando seco o bagaço da cana, voltar todo ele ao engenho, agora par-a alimentar a fornalha. :;cm– pre de fauces insatisfeitas. Muita vez assisti, aos meus quatro anos, mover-se toda a complicada maqu;nária do engenho, pa1'a a fabri– c:ação do açúcar, deliciando-me com a "garapa", que descia espu– mante pelo côcho de madeira a caminho das taxas de cobre onde sobre a intensid~de do fogo, se ia apurando o mel, que depois se der– rarnava nos "paes", onde se consolidava em açúcar, na "casa de purgar" Por ocasião da "botada" iamcs todos às festas da "Casa Gran– de", que dominava ,uma suave elevação do terreno e de cujas va– tanêl~ alpendradas se descortinava o panorama do engenho, mo– clc-rrento e sombrio, quando não era época de safra. agitado· e febril quando em el~boração, percorrido por uma multidão de traba_lh_a– dores de~ odo_ Jaez. sob a fiscalização severa de feitores. de admmu:;– tradores e ,ate mesmo dos senhores de engenho, homens que usavam :;empre botfil.S e esporas, a cada momento montados em fogosos ala– zães, percor~endo campos e canaviais. A "Ca.s3- Grande", que também já não existe, era acolhedora e amig·a. eruc;lmeando de gente, servida por pelotõe.s de negros e ~e negrinhas _?loleques e meninos por toda ,a parte, as donas e dom– nhas sem.pie vesti_das. como endom:lngadas, parti~ipando da ale_gr.~, gente mesin.o da cidade, adgumas vezes até de mais longe, da propna capital. E ' º senhor de engenho que primeiro conhed, o do "Forta– leza", era um venera~do Cavalcanti. a quem tcdo.s chamavam de "Seu Tô" daquela antiga e nobre família imensa de pernambucanos, c;ue depois' se propagou pelo Brasil afora, desde as adustões sertane– jas e praiu do nordeste, aos confins da Amazônia e pampas do ex– tremo sul. Ao temp 0 ,. tudo pelas redondezas era Cavlacanti: s~nhore~ çie engenho, auf;md_ades, politicos, comerciantes, lavradores, mdustnat?, burocratas e ate mesmo um engenho tinha o nome de cavalcant1. &nhores Ji,,1;1ve que, de conhecidcs ligavam o próprio nome ao en– genho trar 1Cional; exemplo: Cavalcanti de "Petribú". Vez em <Jll'al1·· do um r•upo de rapazes dessas familias fazia visitas e excursoes e, quand" eram avistados, o povo os identificava: - "Lá vem a ca.val- g·attJ. dc-s Cavalcanti". . . . :ii:ra mesmo com-entado e reproduzido, então, em todos os qua– drantes pernambucanos, o conhecido refrão: " ..._Pois quem não for Cavaloanti, Tera de ser cavalgado ... " Os Sinh_osinhos, Nozinhos e Yoyôs e conespondentes femininos, er~ conhe_cidos p~l?s nomes dos engenhos em que viviam ou tinham origem; as;Slm _se d1z1a: Yoyô de "Fortaleza", Nozinho da "Aldeia", e~. (~DEI!',_ e ho~e no~e que passou a figurar de modo lustr oso na h1s– tona mil1~a-~ ';lo Brasil, pois foi em terras do engenho desse titulo, em ~eu mun:ciprn _natal. que as divisões do Exército do nordeste, que mtegraram a Força Expedicionária Brasileira ali se adestravam pa- ,
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