Revista Bragantina - 1930 (n.3), 1931 (n.4-5), 1950 (n.6).

•·~ REVISTA ' BkAGANTINA ♦ - .., - # - Aquella que esM ali , a enlaçar hypÕcritamente aquelle Sancho imbecil, aquella velha e vist:bsa pa– rasita que é terror dos lares dcspreveni.fos ... Olhei. Ern o comrnendadnr e Georgette. Era o commendador Rodrigues da Silveira que gesticulava bestialmente para o lado d6 Georgette que sorria ... * * * Frnnco poz, a centimetros, a sua cadeira da 1111- nha , Curvou-se. E em voz bai:irn: -Dizem qu0 este commendador Silveira, na sua "logira, jnlga-;se o mais feliz, o mais- honrado, o mais puro de tfdos os homens! O mais feliz, por– que não sàbe o que é trabalho; o mais honrado, pJr– que só o interessa a vida dos outros (a delle põe a juizc, destes); o mais puro, porque, se possivel fosse, reuniria todas as mulheres e, a todas ellas daria urna s~entelha de affecto. De affecto e de al– gtrns contos de réis. Não seria usurario para com ellas ... Não seria, não! Não é. Marcha conforme o rufo do tambor ..• As suas aventuras ôe espalham por séries. Elle tem muitas como todos os homens dados a cJnquis– tas .. , A conquistas facieis e difficieis. Naquellas– as mulhe1·es viciadas que, mosmo assi~, nem sem– pre se deixam den·otar no primeirn encontro. Nes– tas-as viuvinhas incautas, as operariasinhas pobres mas pudorada,, as creadinhas que recendem a vir– g·indade e, quando passam por nós, deixam-nos no olfato um cheiro ag-radavel de pureza e candura.•• As aventuras e a~ pequeninas coisas da vida delle, desse rochonchndo · commendador Rodrigues da Silveira, são de pasmar. ' Alves Franco teve um movimento de enfado. Res– pi1·ou fo1·te. ·Reteu no le·nço algumas bátegas de suor que lhe esconiarn pelo rosto desfigurado. Sorveu o ultimó g·ole de whisky. E continuou: -Não vale púr anedocta, Mas o caso ha de lhe merecer ao menos um sot-riso ... Elie, o commcndador, chegára muito tarde em casa, nessa noite . Chegá1:a cançado, nbatido e a resmungár, de quando cm quando, contra o calor enorme que fazin. E, cotho o adeantado das hor.1s nho lhe permi t, tisse ma is a leitura do ultimo capitulo de um ro – mancesinho canalha que nlgnem lhe houvera. em~ prestadn hn. d"ias, o commeüdadnr, depoi,; de atirnr as ve stes, descuidürnmsnte, sobre as cndciras e cabides, jngou-se mollemente, pharadisincamcn te, sobre o fofo colchão de sua funda e lustrnsa cama ·de casnl. Desde o clin em que lhe morreu a esposa, o com– mendador passou a moriir ;;;nsinho naquelle casarão deserto, muito biJm ar'ejado e que, ao contrario dellc, parece que ninda vive a chorar a sua viuvez pelo silencio que ·lhe inváde os amplos apartamen– tos e pela tristeza das suas janellas constantemente cerradas, ' Soment0 para rnrvir-lhe e ·vttender-lho nas oc~ ·c11siõ0.s precisns tem a figurà cnrbonada e autorna– ta thl um negrn _rachitico, empêrc!igado· e sordido, ·que ·11ão poswe outro attrativo senão aq,uelle sor– riso sempre alcg·re e disfarçado que . lhe anda a bailar · nos labios caliidos·, · O cÔmrnerÍdàdÕr já ·se havia t; ansportado ás ethe reas regiões . .. Cahia pesadamente o sikncio sobre tudo. l<J a mite mais se fazia sentir pela irnmovibili– dade das cousas e dos seres. Pas~aram-se al:2;urnas horas. O cJmmendador Sil– veira dormia gos~ndo o sornno tranquiHo dos que têm a consroiencia calma e se refa,telam num leito confortavcl, em trajes menores ..• O ~eu instrumento de mandados tarnbern devia ter o corpo exhausto de labuta, repousado na cm·va de– liciosa de uma rêde distendida. Ü tl no duro madei– ro do sonlho do quarto ... Sobre o primeiro poderia se reconstruir Roma e incendiai-a de novo. O somno dcs justos termina naturalmente ... Agora, aquelle pedaço de g.ente im, prestavel, aquelle racthitic11 e attenciosis~irno ser– vcntunrio do commenclador, esse, bastaria para des– pertal -o, o rytltmo cadcnciádo dos passos lentos de algum rctardatario, no asplrnlto insensível das ruas. E lá estaria a pôr os <>ll vi dos attentos, prescutm– do ... E' o que se d,iduz disto: Aproveitand", t:tlve.z as sombra, quasi impene– trn.veis do jardim que circundava o pal11cete do c.im – men ,la~ot· R<>drigt1es, algucrn prncura penetrai-o, sorrate1rnmcmte ... Era algum hurnan l p,1ssai·o 11nctumo, desses que, na pn,f1rnd,1 s11lidiio das 11 ,itcs escurns, muitas ve– zeô f,Jrç:,dos por necc,sidade, incongruentes, tl'Ocam o nome respc.itavel dLJ cicl,xdüo pelo épitheto ame– drontador e crmdemnavel cie / unfci. O creado presentio logo, <1, sobresaltando-s@, er– gueu-se pnllido de smto. E, sem ma;s nada, deu o alarme. O cornmendadur, lú em cima, ouvio e levantou-se, tarnbem sobras,.tltad11 . .El11fiou os braços na blusa do seu finíssimo pyjama. Attentou os orgãos auditi– vos : -Ladrão ! Ladrão! Rodrigues da Silveira, ccm o inespernfo, é pos– sLlidn1· de novas forças e novas decisões. _. E sahio a correr para os fondes da c,1,a onde já se encon– trava o neg:rn, fre111ulo, pallidn como um círio, apont,rndl) o vulto • 1 ue corna desabaladamente pe– lns alamedas do jardim: - Lá vae ! Lá vac ! Saltou o muro, o mise– ra vel! O commendador e o negro vão a perseguir o lunfa, Chegam ao portão. Abrnm-n'o. E sahem nara a nrn. • -Lá vae o patife ! O pa-ti-fe ! Persigarnol-o rug·e, encolerizado, o commendador. ' E lá se vão, amo e creado, a correr doidamente pela rua deserta. Na esquina, estançam. O vulto tinha desapparccido na vertiginosidade da carreira que levava... · E Rodriguc5 da Silveira, tremulo de cansaço e de colera: -Um guarda! Procura um •g·uarda,-ó impres– tavel, pedaço de pedra, môco ! ... Q negro, então, num gesto altivo de quem des– 'cobre um segredo, - ficou a olhal-o, sem arredar pé,

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