Revista Bragantina - 1930 (n.3), 1931 (n.4-5), 1950 (n.6).
Noite calma e enluarada. A luz mortica do luar banha a cidade, eiiche~do de fria tristeza a solidào da noite. Pelas ruiJ.S ermas, onde do– mina o silencio, quasi nin/ guem passa, e a cidade corno envolta em um manto som– brio, adormece. Somênte um piano ao lon– ge, ao dedilhar magico de suas teclas, enche o espaGO de sons e melodias snaves ... E uma jovem, muito jovt)m ainda, que. para escoudn o soffer que lhe invade a alma, occulta a magna toí;anclo o seu piano, companheiro inse– paravel de um viver affliclo. Soffre; e para estancar mais . a torrente de dôr que é o mar• tyrio do seu coraçüo. queixa– se silente e resignada, senta– se ao piano e comeca a tocar... e tocando, vão se offuscanclo . as idéas e os pensamentos lu– gubres; vem a satisfação, embora ephemera, e parece que sonha ... Os seus grandes e formosos olhos, ainda humedecidos pe– las lagrihias que antes rola– ram, brilham e cadenciosc1- mente acompanham a musica e o teclado. E os que passam e ouvem estas harmonias tristes que Ferro de Bragança, adquil'ida por uma empresa que examinando cuidadosamente as possibilidades commerciaes e industriaes da re– gião, tratou logo de electrifical-a, dotando-a de melhoramentos in– dispensaveis. E assim foi que estudando va– rias forças hydraulicas existentes ao longo da estrada .e que crimi - nosa:T.ente estavam relegadas, aproveitaram para montagens de usinas capazes de fornecer a ener– gia electr.ica -necessaria. _ Fizeram-na de linha dupla e a marginaram com a bellissima es– trada de rodagem que por diver– sas vezes tendes 'f)ercorrido. REVISTA ERA GANTINA TRISTE A' memoria de uma amiga· . . .flores que vivem ... .I• St~ evolarn pela ·calada da noi– te, ficam com a alma presa de sen lir~as recordações. Yic;tima desde muito nova de um mal terriwd, incuravel, prefne estar só e poucas ve– zes apparece; e sua mãe, bon– dosa, incansavel, acompanha– a sempre nos seus dolorosos soffrirnentos. '-' A modificàção do antigo proje– cto da estrada de ferro Pirapora– Belem que seguja ao longo do rio Tocantins, ao envez de alcançar Bragança, muito veio contribuir para que esta cidade se tornasse verdadeiramente um grande en– treposto commercial. · A localisacão de uma colonia agrícola no percurso dessa. estra– da comprehendido entre o rio To– cantins e as cabeceiras do rio Guamá, veio aproveitar as rique– zas naturaes daquelle rincão p~ trio \té então relegado pela in– curia dos poderes publicos. Assim fallava d. Iracema Caeté num mixto de do~ura e ufània Seus. dedos, atrophiados pelo medonho mal que lhe domina o corpo e lhe ator– menta a alma, já não têm a destrPza que tinham quando tocavam; e um sorrir doce, amavel, <le labios ~corados, sempre transparecia naquella pbysionomia sympathica corno um entreabrir de rosas. Passam se os annos; pros– tra<la pelo grande progresso da doença, jaz quasi inerte, espe– rando a todo momento o fim do sru interminavel sof– frrr. E' triste viver quando se .conhece como ha de finalizar a vida!. .. Drsde então o piano triste, - abandonado ao canto ·dri sala, sem mais se ouvir os seus acordes, parece soffrer tam– bem. Finalmente, um dia veio a, morLe,[uníco,allivio de um sof– fer infindo e arrebatou aquella que na vida soube supportar os martyrios da carne. · E quando chegam as noites enluaradas e tristes, julgo ou– vir sons mysteriosos e lon– g inquos como os de um piano a tocar... SCHWARTZ 21-12-929 contando aos seus netinhos a his– toria do progresso administrati– vo de Bragança. E sorridente de haver conse• guido acompanhar pari passu esse progresso, contemplava a linda bahia que á sua frente espelhava os prateados raios da lua, e os soberbos •edifícios que embelleza– vam a Avenida Beira-rio e que a penumbra da distan'cia os deixa– va ver como se fossem phantas– mas negros sobresaindo á luz da lua e dos fócos incandescentes na poeira que bailava no ar, mo– vimentada. pelos electricos. PHILOGEO CAETÉ
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