Revista Bragantina - 1930 (n.3), 1931 (n.4-5), 1950 (n.6).
~ REVISTA ÉRÁGAN7INA Bragança no anno de 2130 Era uma vez . . . Naquellas noites enluaradas do mez de agosto do anuo 2130, cer– cada por um bando garrulo de ne– tos , bisnetos e tetranetos, a vene– randa senhbra d. Iracema Caeté, costumava éontar aos seus queri– dos descendentes, lindas historias suggestivas1 sendo era uma vez . .. o inicio ob1 1 igatorio de todos os contos. - A senhora d . Iracema Caeté morava em um soberbo palacete á Avenida Beira-Rio, antiga Cos– ta Rodrigues, e de seus sump tuo– sos pateos mouriscos olhando a vasta bacia artificial do porto de Bragança, a graciosa curva do rio Caeté, e os esplendores fulgu– rantes da p1'ateada luz da lua que tremebrilhava á superfície das aguas, que ella costumava d iri– gir-se aos seus netinhos em con– tos infantis. Um d:a, porém, modifi can<;lo esse inicio de historias repetidas tantas vezes, dirigiu-se a senhora d . Iracema Caeté aos seus neti– nhos, pedindo-lhes que lhe ouvis– sem com attenção, pois, iria des– crever a linda cidade de Bragan– ça a duzentos e tantos anne, s a traz. - Queridos netinhos-Ainda te– nho a memoria bastante Incida apezar de dentro de poucos dias completar as minhas duzentas primaveras. (Não vos espanteis leitor amigo, · po~· esse tempo os hoinens viveram muito, pois que o processo Voronoff e outros si– millares de rejuvenescime::to já terão alcançado um exito inveja– vel e a senhora d. Iracema Caeté , certamente pela quarta vez o teria fe:to, motivo pelo qual, contando duzentas primaveras, ainda tra– zia a memorÍ'l. bastante lucida). · Não pensem queridos netos, que esta !inda cidade de Brag!\n– ça, que ora vedes, :emtreposto commercial e industrial de pri – meira ordem, sempre foi assim. Até o anno de 1928, Bragança era uma cidade decadente, sem commercio aprec:avel, apezar ·de ser uma das principaes do Es– tado , Veio, pÓr§m, no quatriennio sul)– sequente a e'sse anuo, uma admi– nistração municipal progressista que estuqando os nossos princi- . (C O J.V TO) Ao talentoso anzigo Benedicto Ccsar Pereira paes problemas economicos e sa– nitarios, foi o ponto de partida para o despertar de novas ener– gias, que succumbiam ante um marasmo condemnavel. E desde então Bragança progredia muito . Olhae esta bacia hydrographi– ca, esta bahia que aqui em frente vedes, larga de quinhentos e tan– tos metros onde os vapores de pequenos e grandes calados atra– cam com facilidade e onde ós hy– droaviões commerciaes e postaes, fazem a sua arnerrissagem; isto n ão era assim. A!li da margem opposta salien- Izabel Queiroz Ribeiro, filha do coronel João Paulo Ribeiro, esfor– çado col!ector estadual nesta cida– de e 'sua digna consorte d . Maria Lucia•Queiroz Ribeiro, recentemen– te formada pela Escola Normal deste Estado e um dos bellos or- namentos da nossa sociedade. tavf1-Se uma grande ponta, uma especie de península de sedimen– tos depos:tados pelo rio, de tujuco emfim, coberta de mangaes, siriu– bas e capinzaes, que diminuia esta largura, que vedes, para cen– to e poucos metr os apenas. E, essa ponta alem de consti- · tuir um viveiro de carapanãs e de miasmas de -toda ordem, alem de constituir um anteparo, pela sua vegetação, ás correntes de vento, tornando esta cidade hu– m:da, era um entrave á corrente– sa do rio, tornava esta largura diminuta e o rio, raso pelos se– dim~ntos depositados em sua fóz, era · inaccessivel á passagem de navios de um certo calado, Olhae tambem, lá ao longe para a curva do rio que desce. Vede como esta avenida beira-rio, que sinuosamente margina este rio e este caes, é embellezada por edifícios occupados pelo com– mercio e que a penumbra da dis– tancia nos deixa ver como phan– tasmas negros, sobresaindo á luz da lua e dos fócos incandescen– tes , na poeira que baila no ar, movimentada pelos electricos . Lá existia outra igual ponta de tuj uco, condemnavel pelos mes– mos motivos que aquella. Veio a exp:rnsão da cidade e en– tüo esta ponta foi devastada de sua vegetaçào, aterrada e paulati– namente edificada . Pode vos parecer, queridos ne– tos, ter sido um trabalho oneroso rrnra os cofres municipaes estes dois que acabo de me r eferir; ve – reis que não. Por esse tempo havia uma cer– ta procura das cascas dos referi– aos 111angue1ros para a industria de curtir couros. E as cc1scas dcss;1s arvores que eram venriidas a bom preço, e ai nda mais a lenha obtida, igual-1 mente vendida, veio custear as . despesas de alargamento e ater– ros que fizeram, tornando assim possível a realisação desses gran– des trnbaU10s. J;: ainda me lembro das detona– ções dos petar.dos de dynamite, que aba lavam a cidade de mo– mento a momento. Dir-se-ia que Vulcano enfureci– do contra as nymphas do Caeté; espadanasse nagua e lançasse no ar, torrentes de lamas envolvidas de fumaca, como se fossem hafo- . radas qtÍenles de sua colera. Um outro trabalho grandioso, pelos fins commerciaes que veio preencher, foi a reconstrucção da an tiga e desmantelada Estrada de
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