Revista Bragantina - 1930 (n.3), 1931 (n.4-5), 1950 (n.6).

-• •e··~ REVJSTA'HRAGANTINA l A 'proposito da conferencia do applaudido in– tel!ectual, deputado Romeu Mariz Aos jovens e distinctos conterraneos Armando .,, e Bolivar Silva _ 1' 1 Ary, joven indio «Caeté», filho uni~– co de «Camut:í" (tuchaua da pequena taba que habitava o bairro da «Aldeia,,), eximia caçador e imitador do canto de - todos os passaras, estava, um dia, de arco e fl.exa, em riste, prestes a desferir a. flexada certeira, no bando· d~. «ara– cuans», que pousára em frondoso inga– seiro, attrahido pelo solfejo enganoso,· quando sentiu alguem puxar-lhe o bra– ço com que segurava a flexa. ·Ary voltou-se e viu a seu lado a formbsa Cy, 'idolo das florestas bragan– tinas e que lhe fôra promettida em ca– samentó pelo guerreiro ,pae da joven india . Pelos modos supplices e quasi atllictos da recemchegacta, notou Ary que algo de anorma\ se -passára na taba. Recollocou, ó arco a tiracollo; a fle– xa no bornal; ageitou a tanga, e o co– car de vistosas pennas e, com faceira e respeitosa reverencia, saudou a sua bel– la compromettida. ' Pelo corpo bronzeado de Ary per– passou um frémito d~ prazer luxuriante ao vêr-se sosinho, longe da taba de seus maiores, quasi perto do «riogran– de», ao lado da bem amada. Sentiu um chbque violento pela epiderme como se duzentos «puraqués» lhe ti– vessem descarregado baterias electrica·s. Tremuliti de susto, procurando fazer-se forte á grande commoc,ão que o inva– dira por causa da formosa e meiga ap– parição, - elle, que nunca vacilára ante dez e vinte «Ternbés» e outros tantos 1 ;é «Urubúb», tribus indígenas inimigas d1 sua; tallou titubeante á joven : · -Que deseja do seu escravo Ary a filha dé «Urupê»? -Pot que vejo com tanta urgencia, a ponto de caminhar sosinha tão gran– de distancia? E a t"brmosa indígena, meiga e pro– , acaute, confidencialmente, respondeu– lhe; a voz adocicada : Então, o «guerreiro branco11 amea– çou-mi e a todos os nossos irmãos, de reduzir a cinzas as nossas «chocas» si, a,é _amanhã eu i:ião lhe tiver lado resposta satisfatoria; jurou mais, que de qualquer fórma eu pertencer-Ihe-ei-ou ·: raptada, ou, após a guerra .de morte com que dizimará todos os nossos · · pouêOs guerreirns dos quaes o mais visado és tú. Salva-me! Salva-nos Ary, pois só em ti confio!... * * * Cy, referira-se a Alvaro de Sou- Entre mimosas fiares, Heloisa Ferreira 'ivida, emoção, encantamento .. . -Se importullO o forte guerreiro," e valente «Caeté», é, somente -para in- sa, - o . bravo luzitano desbravador de formar que estou sendo victima de nossas glebas; .fundador de _Bragan- constantes impertinen~ias do «chefe ca- ça antiga « Vilia 'de Sousa» . O destemi- riuna» que, ha tt>mpos, conquistou do domtario destas plagas virgens, ten- nossas terras e nossa gente e ergueu a do erguido suas tendas de trabalho no , sua tal.JJ na cnrva do rio. local que hoje conhecemos por « Vilb , -Seu atrevimento foi desthédído Güérai,; embrenhou-se pelas selvas ' tentando seduzir-me com ~eclaraç2es que marginam o .«Caeté» estudando de arÍ1or. r- , ' 1 topogràphicamente o terreno. Após ai- -Ante a résposta negativa que lhe guns annos de acuradas ;nvestigações e dei, e·x_a_sperou-se C?mo i:m. jagu~ré. prof~do exame com numercso pessoal ):{eluc_te1 cqt11 energ1a·-·e---mcl-igoo~ao---; ·· • qae-o··acompanhava·desde ~elem e de .,recusei.: •t1 aff~ontosa proposta de uma haver sem grar.de reluctanc1a, domes- fugà. p.recwitada. - ticado e quasi civilisado os selvicolas r' «Caetés», sua attenção fôra despertada pela ,,cunhantan» formosa, filha de «Urupê», guerreiro valente da tribu cujo tuchau~ era 11Cumutá», pae do .joven Ary. De estatura mediana, cabellos on– deados e da côr do «japirn» a cahirem– lhe pelas espaduas de jambo more::o-; olhos sonhadores e amortecidos, qual o reflexo da lua cheia sobre o rio corren-· te; labios purpurinos e provocantes. Cy foi a tentação de Alvaro de Sou– sa que não mais deseja fazer outra cousa senão embevecer-se na contem– plação apaixonada' das bellas formas d,t gracil selvagem bragantina. Ininterruptas visitas o garboso do – natario fizéra á "taba do velho -,Camut:í». , i~equena «igarité», diariamente_, pela manhã e á tarde, singrava, velcz, as aguas mansas do murmurejante « Cae– té», em direcção á «Aldeia~. E o bom , tuchaua «Camutá», sorrindo, affectuo– samente, orgulhava-se com aquellas visitas do «chefe cariuna)) e .servia-lhe, sempre, o saboroso assahy, a gostosa moque~a, o cheiroso ananaz e as deli– ciosas macacheiras e batatas. Sousa, não· podendo mais guardar em segredo a forte paixão que o em– polgára, vendo, um dia, sosinha, sob a fronde das mangueiras a Cy de sua alma apaixonada, approximou-se della e fez-lhe a declaração vehemen\e do seu affecto. E o «bem-te-vi•, lá do alto da man– gueira, musicou em notas alegres aqud– la confissão de amor, a primeira que se fizéra na terra bragantina. Alma rustica, porém sincera e, bôa, como sóem ser todas as nossas gentis conterraneas, Cy não accedeu aos rogos, juras.e até ameaças do chefe «branco». O seu ~oração era fiel; pertenceria sómente a Ary. Indignada com a continuação daquel– las persistentes conquistas e ameaças, resolveu rtlatar tudo ao seu futuro es– poso. -Cy é a vida de Ary e Ary agra– dece do fundo dalma a confissão que lhe fei e promette protegei-a contra as indignidades do «guerreiro branco», respcndeÜ o joven «Cáeté->. E, amorosamente enlaçados num quasi abraço apaixonado os dois aman– tes volveram para a .-Aldeia» e ao tu– chaua «Camutá» relataram tudo. A' noite desse,dia houve.grande reu-

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