Revista lítero - pedagógico - noticiosa da sociedade paraense de educação

PAGINA 17 ção preliba . Estava viçosa e bela, na delicadeza das suas pétalas salpicados de pontinhos brancos . Eu a contempla– va ,embevecida, prêsa que era dessa du– pli'icdade de sentimento de admJlração e tristeza que por vêzes, nos aperta o co– ração. E me quedava a meditar e, em solilóquio, me perguntava: "Por que o Belo, às vêzes, nos. desperta Tristeza?" Intuição, pressentimento. . . que sei eu? E, todos os di-as, em horas de deva– neios, eu olhava com deleite, a minha querida e mimosa saudade. Bela e viço– sa, eu a vi,a, com um zêlo, todo carinho e amar . .. Ela representava para minha sensi– bilidade afetiva o consolador aconchêgo do ri!colhimento da alma que se concen– trn. em suaves e puras recordações ... Um dia . .. , triste dia! Eu fui procu– rar a minha saudade e ,a divisei, leve– m<)nte, inclinada no seu hastil. A sua coroia ap~esentava um pequeno vácuo, no seu primoroso conjunto: uma pétala se desprendera e caira . Tão firme no seu delicado engaste, me parecera sem– pre forte e inflexível. Naquele' con· junto h~rmonioso, ela se destacava pela erama do seu _ porte, pela elegância das suas expressoes, espontâneas ime– diatas, corretas . Algo de nobreza 'enfei– tava a sua fronte e suas atitudes calmas velavam, talvez, a fortaleza da sua alma e. a magna~imidade do seu cora ção percutido pela vibração da caridade .. . E a primeira pétala da minha sau– dade caiu . . . inesperadamente em uma noite de ressonânci,a-s celestialis - vés– pei a de Natal. .. Amância . .. Ela se foi e .ª minha saudade ficou, pensativa e triste, recordando essa companheira ami– ga que se partiu ... Mais tar~e . . . um ano, dois, que sei eu? outra petala se desprendeu da mi– nha saudade, menos viçosa máu grado o zêlo da minha afeição Esta, bem mo– desta, era entretanto o invólucro de uma resistência herói~a de uma forta– leza indômita. Açoitada de constantes vendavais, fustigada pelas rajadas con– tinuas de ventos contrários ela os en– frentava , enérgica e destemida, singran– do os_mares revoltos da adversidade que, jamais, a desanimou nem abateu Sofreu e sofreu muito . Alma atentada e.o sofri– mento, transformou-o no sacrificio mu– do com que suportava os revezes da sorte . Fôra feliz, mas . .. um dia, a sorte se lhe tornou adversa. Resignada e corajosa, um espontâneo desabafo de– clarou ela a alguém que se sua morte fôsse necessru-ia para que se legallsasse uma união ilícita, ela aceitaria a morte, para que se consumasse a felicidade de outr~m. "Injustiçada na própria pro– fissão, a que se dedicou, curvou a cabeça à crueza do castigo imerecido e procu– rou numa justa aposentadoria, a tran– qüilidade da vida doméstica, no convívio de parentes e amigos reconhecidos. En– tretanto, a natureza cedeu ao heroismo moral: os sofrimentos, tantos que foram e tão paciente suportados e aceitos re– signadamente, deslocaram, da corola, mais uma pétala da minha querida sau– dade ... Joan.a Carepa Coru-êa, a nossa Nita da nos.sa intimidade afetiva, caiu, t,ambém, da corola aveludada da nossa saudade. Não a acompanhamos à sua derradeira morada terrena, que os sew olhos se fecharam à luz da vilda, além, muito além da sua terra natal, lá na Cidade Maravilhosa, cujos encantos não a fa scinaram nunca. Depois, outra rajada de vento desa– tou da corola aveludada a terceira pé– tala. Esta foi, também, um exemplo de , ragem, de perseverança e heroismo . Inteligência invulgar, burilada na ofici– na, onde se aprimoram inteligências, na cultura do saber, a sua mocidade ela a eu num ambiente, onde se concentra– vam valores, constelação que era de pri– meira grandeza, no agirupamento inte– .ectual de elementos jovens que se de– dicavam ao cultivo das letras . Profersô– ra notável, literata eximia, manejando com mestria, a prosa e o ve rso, sofreu também os embates dos desencantos e das desilusões de que a vida é pródiga Estoica, enfrentou a luta e, já quando os anos lhe embranqueciam a fron te al– tiva, ela ainda, caminhava, s.erena, no seu porte de princesa, elegante e firme <; r ~t r ibuindo, ainda, fagulhas das face• t as burilad9,5 do saber que adquirira O enfraquecimento físico afastou-a do nosso convivio . E como foi sentida a sua ·encia !... Recordávamos, sempre, a sua presença amiga e, jamais, noo es– quecerá a sua generosidade a sua pro– diga lidade, mãos, sempre, abertas para o equilibrio das nossas parcas finanças. E Maria Valmont foi ouhra pétala caída da nossa desfalcada saudade. E a vida continuou. Um dia . .. não

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