Revista lítero - pedagógico - noticiosa da sociedade paraense de educação

PAGINA 11 bireito P enal, Sooiologia, Música, etc .. Penso que o verdadeiro valor do nosso grande homem de ,letras n ão está hesses endeusamentos. Tenho plena certeza de que não lhe ocorreu, nem de leve pela mente, enveredar por tão variados caminhos. Caminhos ásperos, por sina¼ para quem n ão é ·especialista. Sua obra é bem mais introspectiva. Tôda pessoal. Subjetiva . Conseqüente de transb01damentos de emoções vividas e comoções recalcadas. Nada miais. 11:le não quis estudar criminosos, nem criar t ~pos de de~ linqüentes. Nem tampouco analisar problemas sociais d,a. época. É'lste é o meu ponto de vista. N]isso, êle se distancia muito, muitíssimo mesmo, de Do9toievski . A obra do m-estre russo, embora também subjetiva e sombria, em virtude de rnus sofrimen– tos, destaca-se pela análise da aluna humana, mas wna alma isempre enfêrma, por ter sido, rea lmente, um médico da mente e criminologist.a na ,sua expre.::il~ mais alta. Como um completo psicanalista intuitivo, das•bra vou o subconsc.ienté-, antecipando Freud. Esta ob:;ervação é necessária, como já disse, a fim de pre– servarmos o nome de Machado de Assis. Não se deve e.,timular nos neófitos isto é, naqueles que se iniciam nos estudos sôbre o romancista e sua obra,. um, julg~– mento .errôneo, oriando-lhes um.a espécie de ídolo falso prestes a desaba r , pela reveJ.ação posteri-or da verd ade. Deve-se mostrar o seu real valor, fazendo-se as re3Salvas necessá rias i:: -a.ra n ão decepcionar. Foi, precisamente, o que sucedeu com certo ami.go meu - r apaz de bastante cultura, mas cultura especializada com pouca s incur sões pela lit eratura . Depois de ouvir tanta co~a. fantástica sô– bre Machado de Assis, um dia quis "conhecê-lo" de perto e di,s~--se a ler o "Dom Oasumurro". Decepção compl eta . Im pr essão totalmente oposta ao nue imaginava . Pensou de encontrar um "trat-a.do de conhecimentos" - da da a popu– laridade da obr.a - e encontrou ape nas a his tória de u 'm mulher adultera. Re– sultado: Machado perdeu com i~:;o um admirador e, conseqüentemenJte, um "pro– pagandista" . Porém, isso n ão 1Se dá com o leitor que busca no livro de H . Pern1ra da Silva o conhecimento do romancista. E êle, nos nossos dias um dos pouco9 macha– dianos criteriosos . Suai: análises são rigorosas, coerentes e, por vêzes, enérgicas . Se não são verdadeiras ou convincentes para alguns, são p elo menos possíveis !)ara todos. Um exemplo d êsse rigor áStá no capítulo sôbre "A Mão e a Luva" . Enquanto vá.Tips autores, como papagaios, ou acovardados, receosos de desr'.;ronar um ídolo consagrado, exageram as qualidades dêsse romance, - H . Pereira da Silva faz um julg,a.mento frio, imparcial e destemido . Vejamos a prova. "Con– venhamo, , - diz êle - h á pouco valor literário neste livro. Mesmo tendo-se em mente ter sido êle escrito "suj eito às exigências da publicação diária", pre– mido pela necessidade de sobreviver às imposições de 0 1 dem econômica., m.eJmo assim as suas págtinas não resi:. tem a uma a nálise critica". Lsto na I)a.rte literá– ria . Volvamos as vistas par a o que êle diz com referência a parte t écnica : f Um dos defeitos m,aiJ.s sérias de "A Mão e a Luva", cons· te precisam.ente n a maneira artificial da dialogação . Há uma infinidade de trechos em que a fa la das perso– nagens foge por completo à n aturalidade entre in c:l!ivíduos mtimos e simp,lesmenr– te conhecidos. Mesmo as "refleções." são por demars filosófic as e formulada s com uma correção grama tical difícil de se encontrar" . E por ai vai, demoruJtrando tais deficiências com a transcrição de diversas passagens do roma nce . Ei.." uma ligeir a amostra do livro de H. Pereira da Silva. Machadiano, sem !;;er idólatra, revela -nos um Machado pleno de qualidades, mas também um Ma– chado humano, com todos os seus defeitos, sem contudo diminuí-lo. Ao cont rá– rio . Engrandece-o a inda mais. A,:!SÍm, "A Mão e a Luva", embora sendo um lpvro pequeno, lfraco é o marco para os pmteriores, reputados como gr andes . P-orque, como frisa II. Per,eira da Silva, "os liv ros menores sedimentam os maiores. E tenha tido coru;ciência ou n ão disso, t.al sucedeu ao romancista. :tl:le, como todos os .seus pred(!cessores e sucessores, não poderia escrever sàmente obrar; primnr,. Se:m.elha.nte fenômeno nunca existiu . Forçosamente quem muito escreveu,, mu:ito deixa a desejar quando o que se lê n ão cdincide com o que de melhor do mesmo autor circula pelas estantes .. Em resumo: "Sôhre oo Romances de Machado de Assi<;.'' é a exposiç.ã~ e a análJ.se da evolução contínua de um romancista, cuja obra não deve ser vi ta como marcada por fase., ou per'iodos, mas uma obra que se aperfeiçoou com o amadurecer dos anos do seu cria.dor .

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