Revista da Sociedade de Estudos Paraense, Seculo XVII, t.2 fasc. 3 , 4, ex. 3
15!) ,. bilavam ali os aruans, índios que não se tccommendavam pela mansidão, nem tão pouco pela pureza cle costumes. Vendo elles approximar-se a jangada, correram á praia e lá assistiram o desem– barque dos naufragos que, repartidos por elles 8111 grupos, foram conduzidos para terra, e depois mortos e devorados nas aldeias d'esses barbaros, corno ficou verificado pelas pcsquizas mandadas logo fazer pelo govcrnadot· nas costas da referida ilha (1). Condemnamos todos os actos de selvageria; e cel'lo esle mor– licinio não nos póde merecer menos indignação do que o supplicio dos indigenas por ordem ou sugges tão de Maciel Pm·ente. Os factos não alteram em sua natureza, embora não seja igual o numero das victimas immoladas. Differem apenas na qualidade dos seus auto– res:-uns eram tidos como civilisados,-outros como barbaros, sem noções de moralidade. O certo é qne os salvagens j:i cte,iam estar escarmen tados dos conquistadores, al ém de inslruidos nas doutrinas e exemplos que lhes davam . Nno era pois de es tranhar que clles quizcssem imitai-os nesses actos ele crueldade e vin– gança, pondo ao mesmo tempo em pralica antigas usanças tle suas tl'ibus. Em ta l naufn1gio ha ainda qu e nolar a penla quasi lolal elos poucos colonos que poderam salvar-se e seg·uir para a colonia. de Belém. Além do governador e sua familia, foram transportados para a terra sómenle as mulheres, as creanças e as pessoas mais necessitadas, entre as quaes podia ter desembarcado apenas um ou oulrn colono. De caso pensado fazemos esla declaração. Hav ia vinte e dois annos, que achava-se fundada ,a co lonia de Belém, e 11 em de Hespanha, nem ele Portugal, nem de qualquer outro paiz da Europa linha vindo gente povoai-a ! Os poucos moradores esta– vam corno sequestrados do mundo civilisa<lo, e nenhum auxilio quasi recebiam ele uma e outra metropole . Viviam entregues aos ~e us proprios recursos, e em Judas constantes com os selvagens e mvasores. Feitas es tas considerações, passsaremos a satisfazer o nosso compromisso sobre as pretenções da França ás terras do cabo do Norte. E' uma questão que se prende ao passado e segue até nossos dias, pelo que teremos de sacrificar a ordem chronologica do as– sumpto.pi ·incipal de que nos occupamos, para podermos acompa– nhal-a nas differentes phases do seu desenvolvimento. Será uma digressão talvez antecipada, porém necessaria e proveitosa na actuaiiclade; pelo menos demonstrará desde logo o nosso direi to á essas terras tão ambicionadas pelos francezes, quão defendidas pelos nossos progenitores. . (1) José de Moraes-Hist. tia Comp. de J esus, Liv. III, Cap. IV.
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