Revista da Sociedade de Estudos Paraense, Seculo XVII, t.2 fasc. 3 , 4, ex. 3
150 Belém como procurador de Jacome de Noronha com a especial incumbencia de fazel-o reconhecer e dispôr os animos em seu favor. Subornados os ambiciosos e seguro elle do bom exilo do plano, convocou a camara municipal e varios cidada.os , apresentou em sessn.o a copia do tet·mo lavrado em Sa.o Luiz sobre a posse de seu constituinte, e requereu fosse a mesma registrada como prova de accôrdo e obediencia ao governador eleito. Luiz do Rego não tinha podido comparecer por motivo de molestia, mas informado d'isto e de ser o povo chamado por pre– ·gões nas principaes ruas da colonia, lev;mtou-se do leito e accudiu ao logar da reunião onde, depois de ouvir a exposiça.o que l_he fize– ram, declarou que a carnara ·municipal do Maranhão não tinha direito algum de eleger substituto ao governador fallecido, tanto mais quando as capitanías estavam satisfe_itas e socegadas eom os sens capitães-móres, aplos para governal-as na falta d'aquelle. Esta opinia.o, acceita e sujeita á votação, foi approvada. Luiz do Rego, sem nada suspeitar, retirou-se victorioso com a maioria da gente que assistira a deliberação. Mas a camara municipal, instigada pelo capitão Francisco de Azevedo, vendo-se só e sem opposição, apoiado na pequena minoria que de proposilo se deixára ficar, tomára diversa resolução e protestára obediencia ao gover– nador já eleito pelo Maranhão, como cabeça que era do Estarlo. O juiz ordinario Joa.o de Mello, patrocinando esta resoluçM tumultuaria, dirigiu-se ao povo reunido, e em altas vozes clamou que fodos deviam reconhecer a Jacome de Noronha conJo gover– nador e capitão-general do Estado até ulterior decisão do governo de Madrid. E assim o fizeram, sem encontrar resisteneia alguma que reclamasse ao menos o emprego da força ou de qualquer outro acto de desforço legal. O proprio capitão-mór nn.o reagiu: limitou-se a pedir certidão do parecer que dera contra a eleição, parecer que devia constar da acta lavrada pelo secretario nessa occasião. E pouco demorou– se em Belém. Substituido logo pelo capitão Francisco de Azevedo, partiu em 24 de Dezembro para o Maranhão por ordem immediata do novo govemador que, naturalmente dominado de suggestões apaixonadas , queria castigai-o por ter contrariado a sua elei– ção . (1) Foi outr:> acto ill egal e tumultuario a demissão de Luiz do Rego. Nomeado este, como linha sido, pelo poder supremo de Madt·id, não podia ser exonerado por arbitrio de quem quer que (1 ) Berredo-A11. llist. ns. 625 a 652. •
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