Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAEN'SE DE LETRAS que em ti vão esconder a insconsciente miséria de uma vida sem pão, nem sombras de esperança ... Assim, a "Vila Barca" vai cumprindo um fadário : - recolhe os operários daqueles estaleiros, que batem repiquetes, cravando os arrebites, nas chapas dos navios, leprosas de ferrugem ... Aceita o mulherio do Curtume vizinho, que estremece ao ouvir o apito do horário; agasalha marítimos e até a estivadores, tolera as criaturas que a vida atraiçoou . . . Contudo, a "Vila Barca" é otimista e sincera : - dá bailes de sanfona com dançantes suarentos, tem rumores de urbs com rádios "camelots" ... Ao som de violões e de sambas de mõrro, faz boas serenatas quando a Lua vagueia; também, piedosamente, encena os seus velórios, com histórias de visagens e rezas já sabidas, se a amiga Dona Morte visita algum casebre ... No seu aglomerado de estreitas moradias, a "Vila" tem seus Santos, - amigos, protetores : - É o Cavaleiro Jorge, São Cosme e Damião, Rei Luiz, Joana D'Arc e São Sebastião ... Naquela "Vila Barca", quantas crianças sem nome ! Que esforços ela faz para os ócios dos ricos, anônima e vulgar como os seus moradores !... Porém, ó "Vila Barca", vem perto a tua aurora! Os braços dos teus homens e de todos os mais, estão se libertando das algemas servis ... E tu, como outras "Vilas", onde tudo é pobreza, que dormem sem ter ar respirável e humano, levantarás teu grito, entrarás para a luta, para reivindicares tõda a grande tragédia, que viveram no Mar os homens da Velha Barca ! -82- o o o o o

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