Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

VISÃO NOTURNA DA "VILA DA BARCA" Bruno de Menezes Í:uando se viajava no bonde do Curro, até o fim da linha, e se i e:~a a rua de Belém, rumo ao Cur tume Americano, ia-se encon– trar, como ainda '1oje, vários becos que levam a um labirinto de caminho sõbre estivas. Ar;, [undo, confundindo-se com a lama e os detritos das marés, destacava-se o vulto negro aa carcassa a e uma barca, esboroando-se ao tempo. Ignorava-se, ao que parece, quandc, ali foi ela encalhada. Conta-se, todavia, que a firma Manuel Pedro, empreiteira de obras civis, há anos desaparecida, construira essa embarcação p ara transportar madeiras e trazer, sobretudo de Portugal, carga e trabalhadores. As gerações de meio século a esta data, creic nada saberem sõbre as causas determinantes do abandono da famosa veleira, que, enquanto em bom estado, serviu de morada a gent.es sem domicíiio certo. Depois, como fôssem chegando ROvos moradores, os mais expeditos u tilizaram o madeiramento ãa barca, e, nos lugares menos alagadiços da v,~pea, levantaram casebres palafitários. Dai nasceu a "Vila da Barc~ plantada em terreno de marinha, do Domínio da União. Foi uma visão noturna dessa embarcação quase fantasma, que sugeriu a concepção dêstes versos, aos luares de agosto ido e vividos . .. VELHA BARCA ! VELHA BARCA ! É a voz da água sepultando os teus destroços. São os ventos raivosos golpeando-te o arcabouço. É a chuva louca, é o grito das aves agoureiras, ressoando no teu bôjo, velha barca encalhada! No paúl d'.) teu leito, recordas o alto mar, as gaivotas carpideiras, os astros mudos, que indicavam teu roteiro, o balanço das ondas sob o teu talha-mar, marinheiros suando, nos teus duros trabalhos, relesando o cordame, para o impulso das velas. - 80- tb o G

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