Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

• • REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Fisicamente abatido, moralmente abalado, o poeta transparecia t!·isteza, sofrimento, solidão. Mas a mente fecunda não enfermara nem a sensibilidade esmaecera. Animando-o, com o calor da con– versa, o Governador provocava-o : E os versos ? O poeta, num sorriso tênue, disfarçava e tristemente emudecia. Mas quase à saída, já meio reanimado, falando sôbre o seu exílio voluntário no sitio dos arredores de Bragança, êrmo e longínquo, disse que lá compusera um sonêto inspirado numa noite enluarada. "'Cedro", o nome do retiro. A motivação toponímica decorria do secular ·cedreiro, majestoso, a indicar no fundo do terreiro, como ver– ctejante marco, a nascente sob suas raízes, de onde jorra, fervilhante e límpida, a água que se escoa pelo rio que lhe serpenteia a gleba. Poesia de mõço saltitante. Ei-ltt . "LUAR NO CEDRO Banhando a imensidão da noite escura, Pura e pálida a pérola pompeia ! Quanto mais sobe tanto mais fulgura Em turbilhões de pérolas na areia. Parece até que a lua, dessa altura, Sàmente em tôrno de nós dois clareia Quando pervaga na eteral planura Grande, redonda, luminosa e cheü•. Com o esplendor da peregrina imagem O silêncio se oculta na paisagem Para espreitar a paz dormindo nua ! É nosso altar a flórea natureza ! Vês que não pode haver maior riqueza : Nós dois, o amor, a casa pobre e a lua!" Foi quando veio a lembrança de um meio qualquer por que o Govêrno lhe fôsse útil e o amparasse na grave conjuntura. O Gover– nador desejava fazê-lo sem tardança. Havia a minha velha idéia dos discos. Dei-a incontinenti. Não precisei continuar. O Tenente Coro– nel Alacid decidiu de plano e recomendava imediata execução. Quatro dias após, por incrível que pareça, um carro oficial conduzia Pinagé ao Palácio Lauro Sodré, onde, no auditório do terceiro -73-

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