Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS clt: trovador espontâneo; se na beleza profunda de sua feição român– tica, desenfreadamente, romântica, aos embalos das notas dolentes que vibraram na lira de um Antônio Gonçalves Dias e de um Casemiro cte Abreu, de um Luís Nicolau F'agundes Varela e de um Raimundo Corr eia, de um Alvares de Azevedo e de um Junqueira Freire, ou no tom candente e vibrante de suas odes, filigranadas na genial beleza "' alicerçadas na pujança verbal de um António de Castro Alves, de quem herdou a opulência, a persuasão e o arroubo. Não sei se mais o admiro na musicalidade de seus sonetos enternecedores ou se na exuoerancia de seus longos e pomposos poemas ; se nos borbotões de sua imgulalável fonte vocabular, transbordante de poesia, sem os rigores da métrica, do ritmo e da rima, ou se no luxo a que se t:lntrega, como pnmoroso manejador da palavra, nas composiçbes de roupagens J'.austosas e requintado t rabalno. Assim temos vivido. Nunca o perdi de vista nem mesmo quando o tumulto de minha vida atribulada me tem conduzido aos extremos aos encargos estafantes e absorventes. Há cêrca de dois anos apareceu-me. No meu Gabinete, apressadamente, disse-me estar de viagem ao Estado da Guanabara para, no Instituto de Neurologia, cuidar de sério problema de saúde. Foi-se e não mais o vi. Tempos depois, foi Leõnidas Monte, outra alma de armín~os, quem me trouxe, tomado de susto, uma noticia dura : Pinagé retor- nara agravado. · Dei-me pressa em localizá-lo. Havia penumbra de dificuldades. Auto-exilara-se. Onde ? Longe, muito longe de Belém Desejava visitá-lo. Adiantara-me a filha apenas estar Pinagé soli– tàriamente retirado no Interior do Estado, de onde não podia nem queria voltar a Belém, deprimido, furtando-se a quaisquer contactos. Insisti que lhe transmitisse o meu recado. Dec-orridas algumas semanas era eu quem recebia um aviso. Pinagé viera. Estava em Belém e receber-me-ia em casa da filha. Lembro.me bem, Senhor Governador : Estávamos quase ao fim do primeiro expediente. Inteirt:l1•0 do ocorrido. Vossa Excelência tinha, nêsse dia, um convidado impor– t s.nte para o almôço no Palacete Residencial. Ainda assim foi incisivo. Queria ir também e pediu-me que o apanhasse às 14:30 horas. À hora exata rumávamos à casa localizada na Avenida Senador Lemos n.º 1146, onde Pinagé, surpreendi~o. recebia a visita do Chefe do Estado. Era realmente "o tônico revitalizador que o faria reviver meio século". -;12- . o .,
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