Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
• • REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS l!:sse po~ma, de grande profundidade, êle o compôs, já lá se vão alguns anos, sem saber que um dia, transpondo fronteiras, viesse a figurar em páginas antológicas, coligidas por uma editôra de São Paulo, ao lado de produções de Bilac e Coelho Neto, Machado de Assis e Humberto de Campos, Padre Antônio Tomás e Monteiro Lobato, Viriato Correia e Guilherme de Almeida, Gustavo Barroso, Cassiano Ricardo e outros eminentes nomes da Literatura Nacional. Orgulho como êsse talvez só haja experimentado quando cons– t;ltou, num mural de um dos salões do Instituto dos Cegos, no Rio qe Janeiro, em Braille, êste seu belo sonêto, inserido no livro "Asas", edita~o em 1929, livro que êle não apenas escreveu, mas compôs, imprimiu, paginou, encadernou e vendeu : "CE GO" . Julgas-te .mártir, sem saber que és grande no infinito da treva em que tateias ! Ouves, magoado, as expansões alheias, êsse a_ranzel que em tôrno a ti se expande, e pensas que isso é um céu de áureas colmeias onde não há tormento que as debande ... e que por onde a luz dos olhos ande, andam de gôzo nossas almas cheias ! Não te empolgue o rumor da Natureza. O mundo é um drama de fatais encantos; Deus. evitou-te essa brutal surprêsa ! Enquanto cego assim, de olhos vendados, morrem no coração desejos santos que seriam talvez novos pecados !" De Rodrigues Pinagé, como já O disse certa feita, não sei bem o que mais me empolga, nem o que mais me fascina. Não sei, em meio ao turbilhão de tudo quanto lhe jorra da privilegiada mente criadora, em meio ao manancial inesgotável de seu talento poético, em meio ao desmesurado vigor da perene cascata de poesia que é a <:onstante de sua existência feliz e sonhadora, não sei, repito, onde mais lhe descubro o excepcional poder arrebatador : se no sublime lirismo de sua vocação parnasiana, como excelso discípulo de Bilac, ou na infinita simplicidade de seus versos soltos, brandos e ternos - 71-
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