Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Nisso acompanhando Jaques Flores, Remigio Fernandez não r.bandonava seu báculo e, pelo que soube, por duas vêzes o utilizou ,·iolentamente. Uma das vêzes foi por ocasião da luta dos ginasianos co,.,.., os bombeiros. Ao sair do Colégio, encontrou um garôto sendo subjugado por adversários incontestàvelmente muito mais fortes. Não teve dúvidas, meteu a bengala no ultrajante da farda, talvez feia, mas querida. O outro ensejo apresentou-se na Confeitaria Central, quando quatro ou cinco sicários tentaram seqüestrar conhecido bacha– rel que, segundo as melhores versões, se debatia no chão, agarrado a tudo quanto p,odia, para não ser arrastado. Ai, o bengalão de nosso <'.migo, que entrava na Confeitaria, entrou também em ação, afugen.. tando os raptores, destarte frustrados. Note-se que, em ambos êsses :::asos, êle não mediu conseqüências, pois a época não era promissora para heróis de tais façanhas. Entretanto, não podia deixar de assim ser, porquanto Remígio tinha nas células, gens de Cid El Campeador. Seu temperamento castelhano criava-lhe situações nem sempre propícias. Metido em uma discussão, em um cipoal filológico, se via estar perdendo terreno, seu sangue fervia nos vasos continentes, ameaçando então céus e terras, que tinham razão para temê-lo, pois era bastante robusto. Dois homens toparam-lhe a parada entretanto : Antônio Ferreira dos Santos e Raul Bopp. Ferreira dos Santos, tipo franzino, porém pessoa de grande competência na língua que falamos, da qual era catedrático na Escola Normal, respondeu-lhe já estar superado o tempo dos valentes, pois hoje basta ter fôrça no dedo, para puxar um gatilho· ãe revólver, finalmente, que aguardava tranqüilo os acontecimentos, ,::om a arma pronta na cinta. Bopp encerrou acérrima discussão com um artigo no qual avisava sair, dia seguinte, armado de rebenque, estaria no Café Manduca, das tantas às tantas horas e seguia discri– minando as voltas que daria pela cidade, enfim, prestando os informes necessários para ser encontrado. Felizmente, com alegria de todos nós, a bengala do Remígio e o rebenque de Bopp jamais se defron– taram. Não obstante essas espanholadas, Remigio era, sobretudo, um bom, era chocarreiro por natureza, amando alcunhar todo mundo, desde a sogra até os companheiros mais amigos. Lembra-me por exemplo, que ao i<nudoso professor Antônio Gondim Lins, não conhe– cia, senão por Formosura. Gondim retribuia, chamando.lhe Corujão. Muito, muito mesmo teria ainda para dizer, toqavia, a noite já está avançada, não quero enfastiar tão distinto auditório, que tem me honrado com sua benevolência, atenciosamente, vou pois terminar apenas mencionando três varões, que não podem ser olvidados nesta -64-
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