Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
6) REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Quando fiz concurso para lecionar botânica e zoologia, em minha Escola, Acilino tomou parte na banca examinadora e, me aprovando, promoveu-me a seu colega de Congregação. Então nossa amizade se firmou, passando êle a médico de todos os meus. Dr. Acilino era clínico competente e humanitário, com grande clientela, sempre conduzindo revistas científicas, que lia na rua, em :ma peregrinação matutina pelas residências dos clientes. Chegáva– mos a identüicá-lo assim : Não conhece Dr. Acilino ? É um senhor cie branco, que encontrará lendo uma revista na via pública, esperando bonde ou mesmo caminhando... Certa vez, me disse: Condurú, já tenho dinheiro suficiente para comprar carro, porém não compro. Não é por avareza, mas sim porque, nesta terra, é necessário peram– bular, para queimar as purinas. . . De outra feita, interpelei-o sôbre a razão de continuar pedindo apenas trinta mil réis pela consulta, enquanto qualquer seu aluno recém-formado, cobrava o triplo. Res– pondeu-me : Se exigir mais, haverá gente necessitada que terá de Jtmtar seu dinheirinho, tostão por tostão, para poder ouvir-me e muita vez, quando puder vir ao consultório, já será tarde. . . Aliás, tenho três classes de clientes, aquêles que nada me pagam, porque nada têm; vocês, amatando trinta mil réis; finalmente, outros pagando pe.los que não podem, verbi gratia. . . Aí citou alguns magnatas indígenas. Diversas peculiaridades caracterizavam Dr. Acilino. Exemplüi– cnndo : após atender um cliente, havendo telefone na casa, solicitava licença e telefonava, primeiro para seu lar, indagando se haviam rece– bido algum chamúc!o, é.epois para a casa de outro cliente, pedindo informassem se houvera alteração no estado do enfêrmo, avisando ,,ão tardar a aparr~·er por lá. O doente sentia-se confortado ao saber :;;eu médico interessado em sua recuperação. Acilino formulou até morrer, talvez já fõsse o único de nossos ·esculápios a fazê-lo e for– mulava em latim, levando muita gente a dizer que receitava homeopatia. Um dia, em minha presença, o velho farmacêutico Brito Pontes abor– receu-se com alguém que isso avançava,· explicando que Alium sativum é uma coisa só, aqui e na Cochinchina, em homeopatia ou em alopatia, o mesmo sucedendo com Sulphur hepaticum, com argentum nitricum etc. Brito Pontes uiirmou que seus colegas empurravam as receita;; de Acilino para farmácias homeopáticas, porque não estudavam mais fua cadeira na Faculdade e narrava casos interessantes, para ilustrar suas asserções. Dizia êle que um médico, chegando na capital alen. carina, prescreveu umas pílulas, que deveriam ser preparadas com miolo de pão, motivo pelo qual mencionou na receita, mica panis ... O farmacêutico encarregado da manipulação não ·soube que diacho -59-
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