Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
• • • • REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS quando vemos um Herodoto se deslocando para as margens do Nilo o fim de aprender com os egípcios, que muito haviam assimilado dos hebreus; os romanos e se inspiram nos moldes gregos e recriando às vezes com maior colorido o que lhes legaram os helenos, a cultura se transferindo lentamente, esvasiando povos, que depois caíram no fôsso da mediocridade, e alevantando outros, que se soergueram e depois foram esvi.:siaclcis pela fôrça de atraso de povos mais jovens, mais fortes. Roma se decompôs, depois da queda do Império dG Ocidente, passando a impregn11r o mundo ocidental daquilo que se pode chamar de latinidade ou de romanidade, o que levou o emi– nente Juan Iglesias a afirmar que "a humanidade do homem se nutre e sustenta com algumas - escassas - verdades. São verdades de tradição eterna, e por isso de formulação simples e consonante - harmônica ---:- que nós próprios arrancamos de nossas almas .. . " renasce quem projeta os seus olhos para o mundo antigo, isto é, para a fonte da vida de nosso mundo atual". Por isso, senhores, é de invulgar significação na vida dos povos .mbdesenvolvidos (para usar expressão muito no gôsto dos sociólogos atuais) a assimilação da cultura de outros povos em mais avançado estágio de civilização. E isso pode ser feito, em grande parte, através das traduções de tudo o que se produz no com da arte, da história, da literatura de ficção, da filosofia, do direito, da ciência e da t écnica. As traduções de obras européias no século passado influiram nos movimentos de independência dos povos latino-americap.os . Como salienta Jacques Lambert, no seu livro "América Latina" (pág. 161) : "Já na segunda metade do século XVIII, o movimento de indepen– j ência havia tido precursores que se nutriram de uma literatura polí– tica francesa ou anglo-saxõnica. Após a partida dos jesuítas, nem a metrópole portuguêsa, nem a espanhola conseguiram opor.se com eficácia à difusão das ideologias novas : uma e outra estavam inte– lectualmente dominadas pelos afrancesados. Em Nova Granada (hoje venezuela e Colômbia), Narino ·traduzia a Declaração dos direitos do homem; em Buenos Aires, Moreno traduziu o Contrato social; no Brasil, em 1789, os dirigentes do primeiro movimento de Indepen– dência, a Inconfidência, eram influenciados por Montesquieu, Rousseau, ~ sobretudo, Jefferson; no México, no Perú, no Chile, no Equador, a parte culta das aristocracias e das classes médias que adere à luta contra o obscurantismo, entusiasma-se pela Revolução Americana e pelas primeiras fases da Revolução Francesa. Não fôssem as traduções e o pensamento filosófico europeu não teria atravessado o Atlântico e talvez a independência politica -53- ·
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