Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Não faz muito tempo ouvimos de um grande editor a afirma– tiva de que não é possível publicar obras clássicas, por falta de mer– ende, e rematava: "O Brasil é um País de apenas 500 anos". Para tal argumento é fácil a resposta. Em 500 anos Roma transformou-se de um pequeno nódulo populacional no Palatino em uma República e um Império Dominador de quase tôda a Europa, parte da África· e da Ásia menor. Em muito menor prazo o Japão saltou da Idade– ·Méd_ia para a contemporânea assimilando e aperfeiçoando a cultura do Ocidente. Em 20 anos apenas a Alemanha Ocidental se reergueu a hoje assombra o mundo. Nos mesmos 500 anos os Estados Unidos se tornaram a maior potência mundial. Não é possível condicionar ~ Cultura ao tempo, nem ao espaço. A cultura deve condicionar-sr à pertinácia, à perseverança, ao trabalho, desde que a ela se dedique a alma inteira do povo que deseja reerguer-se. E vai nisso um conselho goetheano. Quando o fâmulo Wagner interrompe o diálogo do Espírito da Terra com o Dr. Fausto, diz.lhe êste, em certo p as:;o : Não deves pleitear aquilo que não sentires. Wenn Ihr's nicht fuhlt, Ihr werdet's erjagen. Só o que vem da alma (ou do coração) Wenn es nícht aus der Seele drigt, und mit urkrafti– gen Behagen e com prazer vigoroso Die Herzaenaller Horer zwingt, domina os corações dos que te ouvirem. Um comentarista de Goethe, referindo-se a êsse trecho, diz simplesmente : Les grandes pensées viennent du coeur". l!: preciso, sem dúvida, pôr a alma (die Seele) em tudo que se faz, ou o coração, nas pequenas e nas grandes tarefas, para que cada um possa crescer com todos os corações. Os que aqui se encontram, a fim de receber a láurea da Aca– demia são pessoas que creditam na verdadeira cultura e que costumam pôr um pouco de sua alma nas suas realizações. Romancistas, poetas, historiadores ensaístas, se.ia qual fôr o gênero, todos atenderam ao apêlo da Ca;a de Machado de Assis e t rouxeram um pouco de si mesmos para a obra comum. E entre os gêneros realçados pela Academia para fins de con– curso quero no momento dar especial relêvo àquele a que me dedi. quei, 0 da tradução, por entender ser um dos .mais necessários ao nosso País. Nenhum povo pode viver isolado. A civilização há ;éculos se desloca de região a região, de continente a continente; as culturas se transmitem. se insinuam, como dizia Goethe, referindo-se ao campo do direito, "Sie schleppen von Geschlecht sich zum Ges– chlechte, und rucken sacht von Ort zu Ort". Arrastam-se de geração :1 geração e se deslocam de lugar a lugar. "É na verdade um fenô– meno espantoso, através das idades, o da assimilação das culturas, -52- Cb

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