Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
• • • REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Muito embora esteja esculpido no texto de nossa Constituição que "o amparo à cultura é dever do Estado", sente-se a necessidade, cada vez mais avassaladora, de socorrê-la nos seus multiformes aspectos, para que a mesma acompanhe o desenvolvimento material da Nação. 'l'ôdas as nações altamente civilizadas porfiam na investigação cientí– fica, no estudo sob todos os aspectos, nunca espécie de guerra entre culturas, com fôrças imponderáveis, intangíveis, mas reais, que cons– tituem a alma de cada nacionalidade. Vêem-se, então, os chamados milagres : o milagre alemão, o milagre japonês, milagres que 'não têm nada de transcendental, de extra-terreno e que, pelo contrário, nasceram das mãos bem humanas e de cérebros que se dtscip1Lr1aram no trabalho e na investigação. Há um velho provérbio oriental, segundo o qua,l a perseverança produz gênios. É a persistência, a pertinácia, a tenacidade do tra– balho sempre na mesma direção, que engrandece os homens e com êles, Nações a que pertencem. Por isso, meus senhores, é-me grato reconhecer que em nosso País já surgem itúciativas, como a da Academia Brasileira de Letras, no sentido de incentivar a Cultura e esta festa é um testemunho da realidade. Numerosos homens de Letras com assento nesta Casa bem sabem quanto é difícil, em nosso País, ao hÓmem que se inicia nas letras, quebrar barreiras, vencer obstáculos, abrir caminho. Todos serrtiram isso mesmo em sua juventude. Lemos certa vez que Jorge Amado teve o seu primeiro livro recusado pela editôra. Josué Montelo, que na juventude, destinado pelo amor paterno a ser pastor protes– tante e comerciante de sapatos, teve que emigrar de sua São Luiz para Belém, época em que fomos seu contemporâneo e lembro.me bem do seu modesto quarto num velho casarão da Praça dos Quartéis onde só havia uma rêde e livros pelo chão. Humberto de Campos teve início tão cheio de agruras que as suas memórias, quando divul– gadas, comoveram a todo o País. Peregrit10 Júnior, na juventude, também estêve pelas nossas plagas, militando na imprensa, abrindo caminho com as armas de seu valor pessoal. E quantos outros, todos acredito, sentiram a adversidade que se .antepõe como muralha aos que querem escrever, aos que desejam publicar, num País onde, 1 muitas vêzes se editam com mais facilidades histórias de quadrinhos do que obras de alta cultura. Belo tema para uma obra seria, sem dúvida o comêqo da vida literária dos acadêmicos, hoje vencedores e consagrados, os seus primeiros tropêços, as suas p1·imeirRs desi– lusões. Belo tema, em que surgiria ao vivo o retrato social do Brasil intelectual nos últimos quarenta anos. 51
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