Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS O movimento modernista no Brasil se fragmentou nos grupos primitivistas e nacionalistas. Alguns caminharam por caminhos dife– rentes, divididos em dois extremos : comunismo e racismo, ambos sem amparo na índole democrática e profundamente cristã do povo bra– sileiro. Diante dessas .tendências exlremas dos c isões modernistas, Ronald de Carvalho ficou isolado, na posição inicial, indiferente a tôdas as convocações que lhe foram feitas e r eagindo contra os grupos e suas opiniões. Em todos os momentos, os mais revolucionários, Ronald de Carvalho soube guardar a grave compostura formal, sem jamais perder a serenidade. E na sua obra "Pequena história da Lite. ratura Brasileira", Ronald de Carvalho ensina : "Precisamos disci– plinar a nossa inteligência pelo estudo direto do Brasil". O homem nôvo do Brasil quer viver a realidade do momento. Ser moderno não é ser futurista nem esquecer o passado. Ninguém pode esquecer o passado. Repeti-lo, entretanto, seria fracionar arti– ficialmente a realid3de, que é contínua e indivisível. O homem livre moderno, ao contrário do escravo e do servo no mundo antigo e medievr,,l, não pode perder tempo com a ciência minu– ciosa do pormenor decorativo. o poeta de hoje não é o bufão do senhor feudal, nem o pintor é lacaio do rei. O artist a moderno pois, é dono do seu rítmo e, como todo o rítmo da vida contemporânea é violento e largo, êle tem que reproduzí-lo sob pena de desaparecer. Isso, entretanto, - doutrina Ronald de Carvalho - não quer dizer que êle despreze a disciplina da experiência acumulada pelo passado. Seria pueril afirmá-lo. Basta considerar, por exemplo, uma das ten– dências da arte moderna, para ver como futuristas, cubistas e moder– nistas sem credo dogmático estão; por outros motivos, servindo-se de alguns processos usados antes até da idade clássica. Aquela ciência do pormenor decorativo, que floresceu no perío– do helenístico e no Renascimento, está inteiramente abandonado. A arte moderna libertou.se do assunto, de motivo, da cópia, em suma. O seu único objetivo é comover pela exaltação lírica dos rítmos e das formas. O próprio Ronald de Carvalho, em "Espêlho de Ariel", referin– do-se a Vila-Lõbos, o grande músico da revolução modernista, afirmou : "A arte é uma aspiração à liberdade que nós, poetas, músicos, pintores, escultores e arquitetos, desejamos é criar o nosso rítmo pessoal, e transmitir a nossa harmonia interior . E em "Epigramas", às páginas 79, exclamou : "Cria o teu rítmo e criarás o mundo". Ronald de Carvalho, que foi um dos mais lúcidos e honestos líderes do movimento modernista, reconhecia a necessidade do rftmo. De fato, não se faz poesia sem ritmo. A poesia é a música da alma -43-
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