Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Ja. Mexam com seus companheiros. Façam alguma coisa de nõvo. Façam loucuras. Mas procurem espanar aquelas teias de aranha". A propósito de Graça Aranha , que foi o lider do movimento modernista no Brasil, Celso Vieira, ao tomar posse na Academia Bra– sileira de Let1·as, a 5 de maio d e 1931., revela que, uos tl'czc anos de idade, Graça Aranha confessou que em um ateu o quo csLavu apLo para dizer corajosamente não, às fôrças encasteladas na crença e no uso. É o mesmo Celso Vieira, ao estudar a personalidade literária de Graça Aranha, l[ilt> afirma que foi êle o mais cambiante dos nossos estetas e a maior elas nossas contradições literárias, havendo nêle a indolência de um contemplativo e a insubmissão de um conspirador. Graça Aranha mesmo confessou : "Pelo excesso de imaginação e pelo gôzo de imaginar não produzi muito e multas vêzes abundonei a ação empreendida". Verifica-se, pois, sem grande esfôrço, que o movimento moder– nista, liderado por um homem inconstante e contraditório, sem fé e sem diretriz espiritual, não poderia consolidar posição e destruir uma obra clássica que estava e continua consolidada na alma dos povos e nas consciências esclarecidas. Ainda é nos clássicos que todos nós vamos buscar a perfeição para a cultura e para as letras. *** O movimento modernista no Brasil teve as suas grandes con. tradições. Uma delas é observada por Peregrino Júnior na apresen– tação que fêz do livro de Ronald de Carvalho, da coleção "Nossos clássicos", da editora AGIR. ·Diz êle: "A posição que Ronald de Carvalho adotou em 1922 teve um sentido heróico e o seu heroísmo consistiu em abandonar êle todos os pendores naturais de escritor clássico e poeta parnasiano, enganjando-se na Revolução Modernista. Rompeu com sua grei, a sua vocação, os seus laços de formação e tendência, para afirmar sua personalidade em outro plano - no plano subversivo e revolucionário da renovação literária do Brasil. Duas vêzes premiado pela Academia Brasileira de Letras, autor de dois livros clássicos, conceituado e admirado, como um verdadeiro homem de letras consagrado - informa P. Júnior - tudo larga, ágil e atrevido, para aderir à aventura espiritual do modernismo. Essa foi, de resto - completa Peregrino - a atitude de todos os líderes do movimento : o Mário de Andrade parnasiano de "Uma gôta de sangue em cada poema" dá-nos "Paulicéia desvairada"; o Guilherme de Almeida do "Messidor" da-nos "Raça"; o Graça Aranha de "Canãa" publica "Viagem Maravilhosa" ..•. Época inquieta, de mudanças e abdicações, porém, principalmente, de corajosas afirmações. -42-
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