Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS máquina quisesse triturar entre os dentes uma palavra, esta conti– nuaria viva em nós, em nosso corpo. E gritaria sempre que a quises– semas, pela fôrça, reduzí-la a um silêncio neutro. Só a nossa morte fará que as palavras mor ram em nós. A emoção é que legitima o ato de compor, poetica e intelectual– mente. As palavras que entram no poema têm que ser trabalhadas ao vivo, como a linguagem que sai do nosso corpo. O homem, enfim, faz poesia com a máquina; o que êle não pode fazer é uma máquina de fazer poesia. E arremata Cassiano Ricardo : "Tudo isto são coisas que não precisariam, sequer, ser ditas, se não fõsse o estranho fenômeno de alguns poetas admitirem o poema maquinal, o poema feito pela má– quina". "Entendo que poesia é emoção e como tal, o poeta, ao fazê-la, deve sentí-la. Se a poesia não transmite uma mensagem não pode ser compreendida, pois não foi sent ida, antes de a palavra ser verso. Só se compreende o que se sente". O mesmo Cassiano Ricardo disse que a própria palavra estética vem de um vocábulo grego que signi– fica sentir. O poema, no meu entender, não deve ser uma eqüação, um problema de ma temática, ou uma palavra cruzada. l'!:le deve ser sempre poema. A poesia e a música da alma do poeta. Por isso mesmo não aceito a opinião de Mallarmé ao dizer certa vez que, assim como o poeta trabalha para .construir o poema, o leitor que f&ça o mesmo, trabalhe para compreender ... *** Mas .. . dizia que, em 1923, os intelectuais do Pará tomaram a atitude revolucionár ia, ou melhor, aderiram à revolução nas letras, chefiada por Graça Aranha. E "Belém Nova"; primorosa revista fun– dada por Bruno ele Menezes, naquêle ano, a 10 de novembro, em seu número 5, em artigo de fundo, intitulado "Uma reação necessária", diZia : "De há dois anos para cá, em todo o Brasil, de norte a sul, nota-se como que uma endormose de concepção e sentimento, revo– .lucionando as artes e as letras. A mocidade de agora, ajustada a uma Arte Moderna, hasteou no mastaréo das Letras, desassombradamente, á bandeira ·rubra do futurismo. É uma quipe dextra e aguerrida que se propõe, dando guerra aos líricos e neo-parnasianos, firmar nêste Mundo Nôvo uma nova escola literár ia. Nós, o de BELÉM NOVA, somos daqueles que pensam, inimigos que hemos sido do arcaismo, ser chegado o momento de predominar - 40- •

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