Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS - Coitado d:i Laláu - lamentou Hugo a situação do r apa:,: - É um infeliz - concordei. Continuávamos a conversar à porta do chalé desabitado, pan:cle meia com a minha casa, por sua vez parede-meia com '.l casa de Hugo. _Um galo, açqJado, cantou num quintal vizinho. Logo out.ros, despertados pelo canto intempestivo, botaram as goelas no mundo, &mprElstando _à citadina rua do velho bairro de S. José um pacato e bucólico ar de campo. - Bem, companheiro, a prosa está muito boa, mas é i1 1 Jra de dormir - lemorou _Hugo. E aduziu : vou pegar uma boa rêde e :.;onhar _com a "Enclausurada" até o dia amanhecer. Já qu:i não a pos~o t_er comigo de ?erdade, contento-me em possuí-la em sonho. Alvinho, que a tem visto sempre de maiô, na praia, diz que ela t.::m um corpinho de J:'.)ôr ágÚa na bôca da gente. Se de maiô ela é um espétáculo, ima~i~e-sé_o g.ue não será em traje de Eva. Eu que o diga, est.ive na iminência de confessar que já ::. vira assim, mas ~e _contive e_não deixei escapar o meu segrêdo. - Sempiternç., bem .que andou, durante muito tempo, dando err~ cima dela. Êle c'te. µm lado e Eterna de outro, maE", ante a inex– pugnabilidade da iortaleza, acabaram os dois irmão.:; levantando o cêrco. Qualquer um domingo dêstes - continuava Hugo entusrns– mado com os encau.os da môça - eu vou especialmente a Olrnda só para vê-la tomar banho. - Hugo - indaguei, cortando a conversa - que é que você achava dp falecido Matozinhos Campeio? - Um cara muite: antipático. - Eu també,u, - Espera aí, rapaz - observou Hugo, atentando melhor para a minha pergunta - estou a falar da "Enclausurada". que tem umas pera as, uns seios, um sorriso e uns olhos capazes de conduzir ao mau caminho até um frade de pedra e interrompe você para saber minha opinião a respeito de um cara purgativo, come era o pro– fes::,or de História. - É que eu 6&tava pensando ... - Estava pensando. O velho tem razão quando acha que você vive no mundo d i1. lua. Ainda há poucos dias, em casa, conversando com a gente, êle di~,a : o Luciano, com aquêle jeitão dêle, o pensa– mento sempre longe, os pés nas nuvens, ainda vai acabar poeta. - Seu Sampaio exagera. Reconheço que sou. de fato, um tan-:o distraído, mas, dai .acabar poeta, como julga êle, a distâl".cia é muito grande .. Depois de Hugo repetir que ia sonhar com a "Enclausurada'' . - ,.230 -
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