Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS comadres, dizendo-s-3 igualmente bem informadas, duvam-na como pert.encente a tradlcionr.l família de Aracaju, gente de muitos haveres e rígidos princípirn, de moral, que a teria expulso de casa por causa do seu romance co·,a o rapaz. - Profess(>ra, (!Oisa nenhuma ! desdizia-se irritada a incoerente e autoritúria "Eterua Homem Não", como se não tivesse partido dela mesma a informação. A "Enclausurada", acabara de o saber ago– rinha mesmo, dessa ve7. de fonte realmente fidedigna, era, isso sim, taquigrafa do Palá~:io Tiradentes, no Rio de Janeiro, cargo do qual se licenciara para tratar de interêsses particulares. - Mas, criatura de Deus -interveio, certa oJasião, Perene, a irmã do meio, um füho seguro pelo braço, outro f:scanchado na · cintura - não fôste tu mesma que andaste espalhando por aí que ela ensinava o b a ba na Paraíba ? Andaste ou não andaste? An– daste sim, que eu vi muitas vêzes. Então. como é que agora tu vens C'Om esta outn.1 !1O•1idade que a môça é t~qui. . . taqui. . . Taqui . . . o quê mesmo ? •raqui. . . Taqui. . . Sei lá ! desistiu, embaraçada de pronunciar a palavra. Era de mais e atrevimento de Perene. "Eterna Homem Não" med~u-a com os olhos de alto a baixo; nêles despejando tamanha carga de ódio, qlh1 a outra baixou a cabeça e, temerosa de uma daquelas costumeiras explosões de ira da lésbica, ajeitou o filho no colo, desvencilhou-se atropeladamente do mais velho e bateu em retirada. - Mãe, oi e:i aqui; espere, mãe, oi eu aqui. Pare, espere, mãe, pedia em pranto, inutilmente, o menino, porque Perene, numa d~sa– balada carreira, "t. outra, pega não pega no rastro dela, atravessara a :·ua e se refugiara em casa dos pais. Lá, perto dêles e dos outros dois irmãos (somente Teodoro, o marido, não a defendia nessa ocasiões) estaria, certamente, a salvo de uma investida mais séria da irmã, p_ara quem não fazia mossa ser casada e mãe de três .íill1os. Quanto ao rapaz, para w1s era êle advogado com bancft na. CapiLal; pA.ra outrns, sc:brinho de ex-governador do Estado, no tempo da República veih~.. espécie de ovelha negra da família, e para outrn.s ainda caixeiro-viajante de poderosa organização norte-ameri– cana com matriz na Capital da República e filiais em Pôrto Alegre, Belo Horizonte, S. Paulo, Salvador e Recife. A vardade, porém, reconhecida por todos, era que profunda e mútua afeição unia os dois pombinhos, o que afastava a hipótese, aceita no comêço por muitos, de que o ::-::.paz mantivesse a rapariga em cárcere privado. Nos três dias em que êle pernoitava em casa, cumpriam religiosa– mente o~ dois exte,.rn e invariável programa, iniciado uns dois mê3es depois ,que ali vieram morar. Aos sábados, pela manhã, -iam às ~ · 227 -
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