Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS - Mas eu sou h0mem, é diferente. - Vá, seja razoável, não deixe sua maninha morrer de curio- sidade. - Está bem, depois eu conto ... - Depois quando - animou-se ela. - Depois ... daqui a pouco ... mais tarde . .. prometi evasivo, arre~enãido já de õer provocado o assunto. - Olha lá, en cobro a dívida. - Pode cobrar ... A alcunha "Enclausurada", por que era conhecida pela vizi– nhança a morador:i do prédio em questão, provinha ó.o fato de ela ali viver quase stm1pre fechada e pràticamente sozinha, visto o rapaz que a sustentava não permanecer mais do que três dias no mês em sua comp,mhi.a. - Chegava sempre numa tiexta-feira, a& anoiterer, e, já rra. segunda-feira imediata, de manhã bem cedi.nho, depois de muitos beijos e abraços trocados na porta e de recomen– daçoes da parte dfüe : "tome cuidado, guarde-se bem, não se meta com os vizinhos", ;á partia, para só retornar no mês ~eguinte, É · verdade que havia Severino, mas êsse, empalamado e indolente, pas– sava a maior parte dí.J dia deitado debaixo de um2 jaqueira, no quintal. (Mais de uma vez, ao subir ao pombal, nos fundos de casa, para tratar dos pombos, eu o vi naquela postura, à sombra da árvore) . Providencia.-a o rapaz, num armazém de secos e molhados no Bairro do Recife, desde que alugara a casa - o que já caminhava para QOis anos - e nela instalara a bem-amada, o fornecimento de mercadorias, predominantemente carne e peixe em conserva, sufi<:iente para to::Jo mT: mês, encarregando-se apenas o moleque das pequena.\' compras do cotidiano : o jornal, um copo de leit'3 ele cabra, a.Igumas frut·as para sobremesa, sorvete nas tarde de calor. A vida misteriosa do casal : o moço com as suas periódicas visitas, c1 môça não recebendo ninguém e nem arredando pé de casa para lugar algum a não ser em companhia dêle, suscitava da parte' dos vizinhos os mais dPsencontrados comentários. QuPm eram ·, De onde teri~.m vindo Todos se perguntavam e, na ausência de res– postas às curiosas indagações que os conduzissem à identificação do estranho par, inventaram as mais fantásticas histórias: que a rapa– riga, antes de ali parar, fôra isso, que o rapaz se ocupava daquilo, cont::i.das num dia, e retificadas, com novos pormenorc::;, já no outro, que era preocupriçãu dos bisbilhoteiros emprestarem a tais histó– rias certo cunho Lle veracidade. Enquanto "Eterna Homem Não", a mais velha ela,; irmõ.s Medeiros, afirmava ter sabido de fonte fidedigna ser a môça professõrà primária em João Pessoa, outras - 226 - tj
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