Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS berãncia de sua mecidade, curva-se sôbre o altar onde alveja o linho de uma toalha branca, e~condendo o rosto na postura elos orgulhosos cme :;. clor abate, mas conservam a nobreza de sua altivez. não deixando perceber aos outrc,s, o rictus doloroso do sofrimento na face que clesmaia. Já a despojaram da cabeleira farta, o mais torturante martírio para a vaidade fem:nil. A parede fria, que goteja humidade, enegrecida pelo tempo, como um escárneo ou na rnenlira, um Cristo lívido, exangue, pende a cabeça :.·6 6 ;:i, coroada, parn a t e:rra. Haveria nisso a re\·elação de uma verdade? Ela sente que tudc finda aí e abre o coração, como uma cova ~ssa a beira da estrada . . . Jamais alguém esparzirá pétalas nêsse túmulo triste. Cinco figuras apena~ são os espectantes dolorosos õ.essa renúncia. No âmbito estreito da capela silenciosa, passa somente o sonic!t> de um vento gélido e cc;rtante. Os religiosos parecem rezar, mas, <t. prece dêles é um suspiro. E o suspiro é o hábito da agonia. O sacrifício se ultima. A sombra acmzentada de um frade esbate-se na sombra. Duas mulheres moças envoltas no hábito negro, ajoelhadas, ti\m no rosto o tristor de quem deseja curar uma chaga, mas, receia tocá-la com mêdo de a aument&r ou de se ver coberto de úlceras também. Uma procura ver o céu que a abóbada do claustro esconde, outra baixou a fronte sobre o peito. Naquela há amda o vestígio de uma esperança: 1ita um sonho; nesta só existe o desespêro dos que só tem um desejo : acabar 1 A cabeça encanecida de um velho frade nos acorda n'alma a veneração do Passado. A velhice é UM~ evocação do Jamais. l!:le escondeu com as mãos os olhos amortecidos, talvez pelas vigílias, talvez pelas lágrimas. Não quis ver mais êsse sacrifício. Teve pena dessa mocidade estuante que se vinha esterilisar no cilício das celas. Teve pena e quis detê-la. Éle bem n'o sabia o que era essa confiança fictícia dos que buscam no mistériG dos conventos o repouso ilusó.~10 do coração, o esquecimento da vida. a paz mística das moradas santas. ~le bem n'o sabia... E cho1 ou, chorou em silêncio pela desesperança que breve aniquilaria a vontarie dessa pobre moça. Recordava : entrara para o claustro quando eomeçara a fechar-se para os sonhos. Buscara o cmno para viver de $eus dias extintos. Colecionava iembranças . . . Ah ! quão dolorosa é a renúncia da mocidade ! l!:le ali estava apenas para recordar. --204- D o

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