Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
o • ' REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE D E LETRAS o piano ficar no meio da rua, ao sol e à chuva, durante mais de uma semana; quando a Limpeza Pública mandou recolhê-lo. "Na esquina d::i. travessa Campos Sales, onde está boje a Far– mácia Modêlo (atual Banco Mercantil de Minas Gerais), era, uma Joalheria e casa d e gramafones, "Au Falais Royal". Todos os dias u teis, depois da hora ào almõço, ·quando o comércio estava calmo, ouvíamos as mais lindas valsas e marêhas européias, que, boje se ouvidas, despertarüo saudosas recordações daquela época. ..No Bazar não faltava t1·abalho. Aos domingos . trabalhava-se ai,é o meio-dia. Nos feriados, era durante o dia inteiro. E que tra– balho ? Arrumaçr.o a e móveis. Móveis pesados com as pedras már– mores subindo as escadas. Nêsses dias pegava todo o mundo, empre– gados, carregadores, até o patrão. Trabálhava-se a portas fechadas, no armazém e depo~tito. Havia encapamento de móveis para fora; arr umação de merr.aâorias desencaixotadas; suprimento d as prateleiras. "Aos sábados eram as cobranças pela freguezia. De ordinário, e.rf :l eu o cobrador, porque tinha uma dedicação especial em cobrar as contas da casa. Demais, eu sabia ouvir os desaforos e conqui' >l.ar os aevedores . Re:::ebi, assim, muitas contas incobráveis. Gratidão pelo fato : nenhuma. "O armazém abr ia às seis e meia da manhã e fechava às sete üa noite. Os orcknados eram pequenos. Mas o ambiente era diver– tido. Havia a novidade do centro comercial e as novidades das mer– cadorias que chegavam. O cansaço, assim, não esfalfava, porque as sensações eram continufis. "A cidade :inr.eira se sortia no "Bazar",. de forma que ali com– parecia tôda a esprk1e de gente. Quando o movimento era grande e o patrão estava também servindo a clientela, chegando mais familias, êle gritava o nomt:! d0 empregado para que fôsse com ur gência atender as freguesas, a.,; moças bonitas e perfumadas, ricamente vestidas. Moças que nos :::onheciP.m de festas ou passeios, deparavam conôsco, muitas vêzes, poeirentos e despenteados. "Nos dias de sábado eram dias de vales. O empregado deixava o pedido na mesa do sr. Guimarães e, na hora de fechar, êle ia fazendo a chamada . Deixei o "Bazar Liquidador" ·em 1913 e -poucos mês<:Js depois êle foi devorado pelas chamas. O fogo veio da "Casa P e ltin " e alas trou-so. Depois, J:oi recon s truido , enquant o muit a s cnsns suas contemporâneas clesapareceram. "O Bazár, tal qual a Fênix, ressuscitou das prôprias cinzas. -O escritor a ssim termina a sua narrativa : "Hoje, ainda existe, guardando a memór ia ao maior empório de móveis da Amazônia, o maior fornecedor de a1 tigos domésticos para a população de Belém e, também, uma r ude escola de trabalho e esperança3 ... " - 197 -
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