Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS pratos, copos, pane1as, fogões, quadros a óleo. E aproveitaram um tempo que se v,mdia bem, porque abundava o dinheiro. "Passados tempos, deixou de negociar com móveis velhos, s6 fazendo com novos ". Murilo Meneze!". estreitamente vinculado àquela casa que nego– ciava tôda a espécie de artigos domésticos, prosseguindo em sua apreciação descritiva sôbre o "Bazar Liquidador", esclarece, com a rnaíor naturalidad,~ : "Quando entrei ali como caixeiro-vassoura, tinha 14 anos. O cheiro elos vernizes, das tintas, das palhas das embalagens e áos móveis me tl.eliciaram. A variedade de brinquedos me deslum– bnwa. Lá trabalhava Raimundo Góis, o antigo comprador de mobili.as velhas; Joaquim Lopes Pereira, o irmão mais nõvo c:1.e José I.opes FeYeira e sócio da r asa, sujeito de bigodinho, "poseur" e compenetrado, que gera!mente ate.1dia os freguêses de certa nomeada. Caetano d:1 Co:;ta Ferreira, ex[, r.io encapador de móveis, com serrapilheiros, espi rituoso, vestia com aprumo. Era um artista. Aprendera aquilo na Casa Cunha Santo, & C'ia., no Maranhão, onde estivera empregado. Tempos depois, vindo àe Portugal, trazido por Guimarães, tivem0s Manoel Moreira de Castro- Era uma rapaz louro e vivo, de olhos azuls, sarcástico e brincalhão. A princípio, guardou reservas; levava trotes impagáveis, até que começou a aderir às nossas brincadeiras. "Chegou também de Portugal um brasileiro filho de wn comer– ciante rico, Alcides Freitas. Rapaz um pouco alterado, mas de LlTP. excelente caráter. Seu pai enriquecera no Brasil é vivia em Portugal gastando as rend:l~. Freitas era um bom camarada e muito arguto. De quando em vez íamos fazer arrumação e limpeza no andar · de cima. Lá era depósito em móveis e outras mercadorios. Era diver– tido O nosso estágio no sobrado, porque trabalhávamos devagar e sem vigilância. ."Havia lá uma grande partida de botões de "plaquet" para. colarinhos. Estavam acondicionados em saquinhos, duas ou trê~ grosas em cada Urt1.. Havia mais de trinta sacos. . . "Um belo dia foi-se . buscar o lote para venda, mas faltavam nnos saquinhos. Quem foi ? Quem não foi ? Não apareceu o autor da f,ubtração. M&, os caixeiros menores ê que iam fazer a limpezn. "Alcides Freitas propôs-se a descobrir o larápio. "Ninguém deu crédito à façanha. Mas nós entreolhávamo-nos, desconfiados. "Pois bem, ninguém falou mais no caso. E, como na execução dos Távoras, pasna'ios quatro mêses, parecendo que a coisa estav;i mor fa, ela surgiu de repente como os palácios dos fida lgos implicado~, todo::: cercados d'J tropa - assim no nosso caso eram findos quinze - 194 ..
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