Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Romualdo de Sebms entrou no reino das sombras com a serenidade dos Justos. · Dois anos ames de sua morte, isto é, em 1858, o Marquês da Santa Cruz comei,,ara a escrever as suas Memórias, as_quais, infe lizmente, ficaram mRcabadas. ~sse importantíssimo documento com 17 capítulos e 184 págs., impresso na Tipografia Nacional do Rio de Janeiro e editado no ano seguinte ao de seu falecimento, aborda uma variedade de a.,;. suntos, a partir de seus primeiros anos, seus primeiros estudos e sua primeira viager,1 a Portugal. Obra .magnificente apresentada pelo padre José Joaquim da F0nseca Lima, cuJcs orlginais - conforme evidencia êsse sacerdot?, _ recebera "da família do falecido prelado numa demonstração de particular estima e singularíssimo testemunho de sua confiança" face à ligação afeL1va e honrosa intimidade que mantivera com o nosso Patrono, nela se encontram, em seu prefácio, trechos com.:> êstes. "A verdade, da qual êle foi sempre severo cultor, faz o esplendor do seu f:stilo, sem faltar às conveniências da caridade e c::a polidez e aí se ostenta sem que a suavidade da forma enfraqueça a substância dos fntns, "Sua palavra bela e grave, cheia sempre de verdade e in;,– truçã.o, derramaria muita luz sôbre fatos que a malignidade torceu e a calúnia desfigurou à sombra tenebrosa de um túmulo. Ah ! Se de lá mesmo sua voz se pudesse ouvir, ela exclamaria com mais razão as seguintEs palavras de Chateaubriand cont.idas nas "Mc– m<íriali de Além Túmulo : "Que se salvem meus H,stos de uma sacrilega autópsia, que se poupe o cuidado de procurar em meu cérebro gelado e e,n meu coração extinto, o mistério do meu sar. A morte não revela os segredos da vida". Mas, essa voz tão ·pode– rosa e veneranda, emudeceu na profundidade do silêncio eterno. Ela não animará mais o festim literário dos jovens, não vibrará mais nas salas do Parlamento, não soará mais, amena e majestosa, nas abóbadas dos santuários. "Conhecedor profundo dos tempos e dos homens,- afeito aos certames da int'cllígência e às lutas do Direito, nos próprios louros que a fronte lhe adornavam, havia adquirido essa consumada pru– dência que foi ante:; de tudo a virtude com que realizou as reformas e Instituições, qn~ fazem a glória de seu episcopado t" O seu testamento, datado de 25 de fevereiro de 1858, com– plementando, por a;;sirr. dizer, as suas "Memórias" inacabadas, e·,· crito - como êle asseverou - "enquanto Deus Nosso Senhor me cunserva em estado de poder declarar com perfeito conhecimen to e liberdade, algumas disposições por meu falecimento, não sabendo o - 184 -