Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

• REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve. Nossa inteligência ocupa, entre as coisas int€-ligíveis, o mesmo lugar que o nosso corpo na magnitude da natureza". Há um dispositivo · no Estatuto dêste cenáculo em !ace do qual os acadêmicos recém-admitidos enfrentam com !'atisfação uma circunstância imperiosa, ao subirem a esta tribuna para pronunciar os seus discursos de posse, em cuja oração "o recipiendário deverá ocupar-se, além de quaisquer outros assuntos, da obra literária e da vida do Patrono e de todos aquêles que passaram pela poltrona a ser preenchida". Michel de Montaigne, o mestre dos incrédulos, o campeão da liberdade de pensarnentc, o racionalista convicto, a respeito de cuja exuberante personalidade existe vasta literatura, ocupando lugar destacado na galeria dos clássicos verdadeiramente imortais que se veneram mas não se tocam, pouco lido na atualidade, lamentà.vel– meni:e desprezado :i:,ela juventude dos nossos dias, aludindo a uma. frase de Terêncio, inicia o Livro terceiro de seus célebres "Ensaios", com estas palavra5 : "Todos estão sujeitos a dizer tolices; o mal conslste em enur,ciá-las com pretensão. J!:ste homem uai provàve~– mente expor-nos, com ênfase, algumas enormidades". ,· Meus senhores ! Ao empossar-me na cadeira n.º 13, 4ue tem como Patrono Dom Romualdo Antônio de Seixas, da qual foi fundador Dom Antônio de Almeida Lustosa e ú!timo ocupante o Acadêmico Murilo MenezP-s. encontro-me em vosi;a presença persuadido de que, ao contrário do significado das pafa.vras daquE!le pensador francês, afastada a idéia de proferir, com ou sem pretensão ou alarde, qualquer tolices, mo– ve-me o proposito de traçar, perante um auditórlo seleto cuja prnsença nesta '>Oil"nidade me sensibiliza e estimula, o perfil dos eiementos vinculados à Cadeira que tenho a honra de ocupar. Encontramo-nos participando de uma festa intelectual em que predomina a conhecida máxima de Augusto Comte : "Os vivos são cada vez mais governados pelos mortos !" Cumprindo, pois, a norma estatutária, assim r.omo Hum– berto de Campo,;; sepultou os seus mortos num livro primoroso, vamos relembrar, com o sôpro vivificante de nossa saudade, as figuras ilustres já desaparecidas de Dom Romuald•) de Seixas e Murilo Menezes. Vamos recordar, também, a personalidade de Dom Almeida Lustosa, êsse espírito brilhante que, mercê de Deus, ainda vive. - 179 -

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