Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS o bem social das populações sub-desenvolvidas. Seria, contudo, ino– minável . cegueira ou inexplicável sectarismo negar à literatura ou à poesia um lugar destacado na problemática social das épocas histó– ricll s f' um esfôrço c:onsciente para salvar, espiritualmente, o homem, E disso têm os verdadeiros escritores lúcida percepção, e é nesses têrmos que se exprime Ungaretti, numa página ql,l,e merece a medita– ção atenta de quantos exigem dos literatos adequadas fontes de infor– mação (ART POÉTIQUE, Ed. Seghers, pág,. 543) : "Voilá comment le poete moderne cueille de mot en état de crise, le fait avec lui souffrir, en essaie l'intensité, de hisse dans la nuit , blessure par la lumiére . C'est pourquoi sa poésie est comme un déchirement charnel qui laisse s'envoler dP.s fleurs de f~u et possede une lucidité crue qui, dans un vertige, fait manter l'expression vers l'infini détachement des songes; et c'est pourquoi ses mot sont mus par la nécessité d'arracher à la réalité son masquet et de rendre à La nature sa majesté tragique : voilà dance pourquoi un poete est un homme de son temps". Poucas linhas antes, tinha êle a.firmado que o poet a moderno participou dos acontecimentos mais terríveis da História e sentiu, intensamente, o horror e a verdade da morte. Seria , com efeito, im– possível encontrar autenticidade numa literatura que se recusasse a essa perigosa e dramática partiéipação, íntima e profunda, de que provém a ene~gia e o vigor da expressão literária. É evidente que podemos encontrar, dentro desta, uma gama infindável de var iações e dosagens diferentes de vivência epocal. Mas estas variedades estão longe de significar uma alternância com a omissão ou recesso na problemática do tempo : exprimem apenas a variedade das tendências e das vocações individuais; umas, mais condicionadas ao p rovisório e ao imediato, são por isso mesmo mai.s angustiadas e patéticas. e con– tribuem vigorosamente para modificar situações histór icas, como foi o caso (típico, nesse aspecto) do The Uncle Tom's Cabin. Outras, de menor temporalidade, carregam maior densidade do comprometimento com os problemas eternos do homem e procuram responder ao per– manente estado de choque da própria natureza humana. De qualquer forma, literatura é compromisso, e não é outra a tese de Raul H. Castagnino, no capítulo VI de seu ensaio "QUE ES LITERATURA?" (Editorial Nova, Buenos Aires, pá~. 81 ss.). Depois de proclamar, na literatura, uma completa negação do escapismo, r epete aquela pertinente observação de Guillermo de Torre a propó– sito da conceituação de Sartre sôbre literatura, isto é, que literatura comprometida não se deve confundir com literatura sectár ia ou diri– gida, e cita textualmente o autor de "Problemática de la Literatura" : 17 ___,
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