Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS É possível que, em nossos dias, quando mais se desentendem os membros da comunidade humana e quando a linguagem da violên– cia parece ser a única resposta do ,10mem dito civilizado aos seus permanentes e insolúveis conflitos mundiais - é possível que, nesta época, tenham .perdido sentido e posição a palavra e o seu artista. Mas a culpa é menos dêste que da época, esta nossa época paradoxal, di.ante da qual Tristão de Athayde - num admirável artigo - ·indaga, em tom amargurado: "Será possível que o recurso à guerra, à vio– lência brutal, à negação da razão e do amor, seja ainda, como há um milhão de anos, a única resposta que o homem civilizado encontra, tal e qual o homem das cavernas, para resolver o problema de sua coexistência na Terra ?" Tem a palavra, no uso comum, um conteúdo lógico e, no uso artístico, um conteúdo poético - e ambos representam uma profw1dll. interação do homem com o homem, naquilo que êle tem de mais autêntico, de mais êle mesmo : o sP.u espírito, o seu !'enso estético e emocional. Esvasiada a palavra de seus conteúdos, cavam-se entre os homens abismos intransponíveis e fendas irrecuperáveis, porque em nenhmna outra linguagem pode o homem exprimir-se, com eficácia, para fazer-se compreender por si mesmo e por sua época, do que pela palavra humana, m8dida de fluência vital, repositório do pen– samento eterno mas ao mesmo tempo compromissada com os ambien– tes, as variações constantes do tempo e do lugar, trazendo dentro de si um processo latente de aproximação entre os sêres racionais, de solidarização comunitária - a palavra-linguagem e a palavra-arte. Estudando, com maravilhosa lucidez, o fenômeno literário em sua interpretação com o tempo, afirma Guillermo de Torre que deve– mos buscar a definição dêsse fenômeno, em primeiro lugar, "en el condicionamento histórico de las mismas (obras literárias), en su tem– !J0ra?idad, en su s:.mac10n epocal, como fruto que son ele experiencia& y circunstancias .insoslayables, tanto intimas como extrínsecas. Pues nínirún fenómeno Iiterorio y estético que defina uma época se produce ucrónicamente ni deja de regis trar huellas marcadas por vivencias rigurosamente personales, referidas a circunstancias únicas" - (Guil– lermo ele Tor re, PROBLEMATICA DE LA LITERATURA, Ed. Losacta, pág. 10). Se bem que possamos discordar dessa temporalidade algo exa– gerada que parece ressumbrar da conceituação de Guíllermo de Torre, não podemos negar que, de fato, a palavra literária tem sido sempre o principal instrumento de dialogação do homem com seu tempo. t,ão serão, por certo, o poeta e o literato os homens destínados a pro– mover diretamente, com estudos especializados ou pesquisas exaustivas; - lG -
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