Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
.a REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS as tentativas para uniformizar a ação do homem, com o objetivo de aumentar-lhe a produtividade ou dirigi-lo para maior bem do Estado, ou da Raça, ou seja lá do que fôr, sempre resultaram em fracasso pnrque partiram ~E- uma falsidade ou de um desconhecimento da natu– reza humana em sua mais autêntica dimensão. O homem é vário e inesperado, e não podemos dirigir em princípio o bitolamento de suas atividades pelas necessidades circunstanciais que o rodeiam. É possí– vel que,· em determinadas aplicações práticas, êsse bitolamento possa ter validade provisória, mas nunca poderá ser promovido a princípio de validade permanente e universal. Há sempre que respeitar essa barreira do individual, do vocacional, da realização pessoal e intrans– ferível. 1!:sse é também um direito sagrado da pessoa humana que deve entrar, em primeiro plano, em tôdas as linhas de reivindicações sociais : o do homem realizar-se a si mesmo, sem interferências inde– vídas e sem pressões do exterior. Não é porque, num determinado lugar, se precisa de médicos, que cada indivíduo deve sentir-se na <'llri;ração de estu,i ar a medicna. E, se alguém não seg1>in a medicina. porque nela não sentiu a sua r ealização pessoal, não deve nem pode ser incriminado ele omissão pelas mortes que continuam a ocorrer, por falta de médico. Os casos concretos têm nuances, que não podemos analisar em linhas gerais, mas será sempre verdade que as necessidades circuns– tanciais não podem ultrapassar as fronteiras do vocacional nem jamais violentar o direito e a liberdade que tem o homem de se realizar integralmente, em quadros de natureza pessoal. -II- O aspecto vocacional tem de comparecer, como primeiro crité– rio de julgamento, perante aquêles que pretendam inquirir da litera– tura - como das artes em geral - qual o seu valor u tilitário ou sua pragmática social. O vocacionamento literário e artístico dos indi. viduos em espécie deve ser respeitado e defendido, por não se tratar apenas de um dado circunstancial dentro de uma sociedade, e muito menos de uma fixação a quadros de atividades ultrapassadas. O artista - e principalmente o artista da palavra - sempre teve reco– nb.F:;ida 1:: valorizada a dignidade de sua arte, em tôdas as sociedades e em tc,at.-.,; os tempos. No seio dos agrupamentos comunitários pri. rnitivos, que se esforçavam por superar um estágio de semi-civilização, a palavra em ger al - ao lado da palavra elevada a um nível estético - foi sempre elemento importantíssimo de solidariedade social e de aproximação entre os homens. - 15 - ·
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