Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971
1 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS E, aqui dentro, o silêncio. . . e êste espanto ! e êste medo ! Nós dois ... e, entre nós dois, implacável e forte, A separar-me de ti, cada vez mais, a morte .. . Eu, com o frio a crescer no coração, - tão cheio de ti, mesmo no horror do derradeiro anceio ! Tu, vendo retorcer-se ama:r:guradamente, A boca que beijava a tua "Doca ardente, A boa que foi tua ! E eu morrendo ! e eu morrendo, Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, A delícia da vida I a delícia da vida !" Havendo integrado uma geração de vultos prestigiosos da inte– lectualidade brasileira, Bilac "foi a estrela de maior fulgor no firma– mento poético - assevera Tristão de Ataide - aquela que iria reunir, em tôrno de sua musa, um entusiasmo, ao mesmo tempo culto e popular, só comparável, antes dêle, ao de Gonçalves Dias e Castro Alves e, depois dêle, a ninguém mais, pois desde então se implantou entre o grand~ público e as artes, mesmo a poesia, um mal entendido ou uma dissociação 2.té hoje não suficientemente esclarecida". Sua inquietação espiritual, no fim da vida, fê-lo pro<:1uzir sonetos primorosos, divulgados, na maioria, em revistas e jornais, verdadeiras .i6ias de natureza contemplativa e reflexiva quanto ao· destino humano ,. à morte, enfeixados na obra póstuma intitulada "Tarde" (1919), donde transcrevemos "Dualismo" : • "Não és bom, nem és mau : és triste e humano . .. Vives anciando, as maldições e preces, Como se, a arder, no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. Pobre, no bem como no mal, padeces; E , rolando num vórbice vesano, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinte_rêsses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas das virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes 151 -
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