Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

o REVISTA DA ACADFMIA PARAENSE DE LETRAS r omo afirmara Baudelaire, "os perfumes, os sons e as côres se cor– respondem". Impregnada de profundo sentimento filosófico, a poesia "Inania Verba" é tema de conteúdo transcendental. vamos sentir, com Bilac, a espontaneidade e a musicalidade contidas nessa obra prima da poética brasileira : "Ah ! quem há-de exprimir, alma impotente e escrava, O que a boca não diz, o que a mão não escreve ? - Ardes, sangra~, pregada à tua cruz, e, em breve, Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava ... O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava : A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve E a Palavra pesada abafa a Idéia leve, Que, perfume e clarão, refulgia e voava. Quem o molde achará para a expressão de tudo ? Ai ! quem há-de dizer as ânsias infinitas Do sonho ? E o céu que foge à mão que se levanta ? E a ira muda ? e o asco mudo ? e o desespêro mudo ? E as palavras de fé que nunca foram ditas? E as confissões de amor que morrem na garganta ?" As "Poesias" de Bilac, revela Alcides Bezerra, "apresentam a completa floração, o ouro vegetal dos paus d'arco em núpcias, a selva selvagem, a natureza brasileira em todo o esplendor, a graça civili– zada, o requinte da sensibilidade, a sêde de amor e perfeição, a flor C\Ue floriu no Lácio". Assíduo e brilhante colaborador da grande revista artística, cientifica e literária "Kosmos", surgida na antiga capital federal em janeiro de 1904, sob a direção de Mário Behring, Bilac publicava sempre na primeira página crônicas admiráveis sôbre assuntos va– riados. No mês de dezembro do primeiro ano de existência daquela magnífica revista mensal ilustrada, além de sua crônica habitual, Bilac divulgou o soneto intitulado "A Voz do Amor": "Nessa pupila rútila, molhada, Ninho misterioso da Ternura, Ampla noite do amor e da loucura, Se desenrola, quente e embalsamada. - 149 ._

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