Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

• • REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS No seu longo rosário de pérolas imarcessíveis que formam e conjunto das "Poesias", surgidas em 1888 e que, no dizer de José Veríssimo, "ficariam como talvez o mais acabado exemplo do nos~o parnasianismo, tanto pelas qualidades formais, como de inspiração'', extasiamo-nos com ·as grandiosas partículas enfeixadas na. "Via Láctea". constituídas de trinta e cinco sonetos primorosos, a sua obra prima, i:.egundo Estevão Cruz; comprazemo-nos com as "Panóplias", "Sarças 'cte Fogo" e "Alma Inquieta", formando um tôdo de harmonia e bele;,;a em que avultam a simplicidade e o pitoresco dos quadros. Em quaisquer dos ângulos sob os quais o visualisemos, com;– tata-se a sua dedicação ao aticismo da forma, à pureza do estilo, à perfeição descritiva. Como bem salientou Ronald de Carvalho, "apesar de sua cultura e de sua educação intelectual absolutamente européias, o povo brasi– leiro se revê na sua obra, no boleio nervoso de sua frase, no capricho dG suas evocações formosas e sugestivás. Os motivos de amor enchem a maioria de seus versos, transbordam de suas es trofes, às vezes com uma violência equatoriana como êsses rios instáveis da Amazônia que, sm suas mil voltas, vão levando na corrente impetuosa t ud o quanto lhes cai na vertigem luminosa das águ~s". Observemos o seu espiritualismo ao ver-se perdidamente enclau– surado aos liames envolventes do amor profundo : "Porque hei-de, em tudo quanto vejo, vê-la ? Porque hei-de eterna assim reproduzida Vê-la na água do mar, na luz da estrêla, Na nuvem de ouro e na palmeira erguida ? Fôsse possível ser a imagem dela Depois de tantas mágoas esquecida! ... Pois acaso será, para esquecê-la, Mjster e fôrça que me deixe a vida ? Negra lembrança elo passado ! Lento Martírio, lento e atroz ! Porque não há-de Ser dado a tôda a mágoa o esquecimento ? Porque ? Quem me encadeia sem piedade No cárcere sem luz dêste tormento, Com os pesados grilhões desta saudade ?" Componente dos mais ilus tres da Academia Brasileira de LetrR.$, -147-

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