Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

~ A FUNÇÃO SOC IAL DA LITERATURA Acadêmico Ãpio Campos -1 - Estamos vivendo uma época de tanto pragmatismo e hipertrofia da ação, que se vêem ameaçadas em sua sobrevivência as atividades humanas menos imediatas e que não guardam, com a realidade social e com o progresso científico, uma direta correspondência. Tais são as atividades artísticas de modo geral ou aquelas disciplinas que se convencionou chamar de "ornamentais", como se elas servissem apenas para uma inútil e descabida ostentação de cultura da qual não se aproveitam os homens, como a filosofia, a literatura, a cultura clás– sica, etc. Assistimos, com efeito, em nossos dias, a uma constante e cres– cente primazia da técnica e, por extensão, das ciências exatas e naturais sõbre as artes e sõbre ~quelas demais ciências que repre– sentam, em primeiro plano, a cultivação, ilustração e enriquecimento do espírito humano. O copflito não é tão nõvo como poderia parecer, e pode reduzir-se a diferentes fórmulas, tõdas elas situando-se em dois polos que se pretende antagônicos : quer seja AÇAO e PENSA– MENTO, quer seja HUMANISMO e TECNICISMO. Partem os adeptos do tecnicismo e do ativismo cientificista do pressuposto de que o nosso mundo está numa fase de tal depressão e crise, que não há tempo para atividades perfunctórias do espírito. É quase como dizer que não temos tempo de pensar, tão grande é a urgência de agir. Ou então, numa variante, o pensamento deve ocupar-se exclusivamente com aquêles assuntos ou aquelas matérias das quais possa provir qualquer utilidade prática, qualquer resultado imediato, qualquer beneficio para a coletividade, poi& não podemos perder tempo com erudições inúteis. Inútil, para essas pessoas, é aquilo que não tem aplicação visível e ostensiva, perguntando-se elas - não raro como sincera isenção - que benefícios pode trazer à promoção das massa~ ou à economia dos países sub-cl.-isenvolvldos a - 13 -

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