Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS c1e '/. Exa. Há umc: passagem naquela peça profundamente ilustra– Uva e reveladora dP.:;sa alma de Padre que V. Exa. guarda mesmo dentro de sua mais sincera fé espírita que é talvez a alternativa de v. Exa. para não tomar ordens monásticas. É quando o Padre Eilas, c'-irip;indo-se ao sacristão Eusébio, diz : - Conforme-se. Há muitos padres frustrados, que dariam ex celentes pais de família. E existem pais de familia que são verda– deiros padres sem :;e ausentarem do lar. A figura do Padre Elias, padre bossa-nova, desligado de con- venções ultrapassad::.s, desprezando uma religião de aparências para prP.ccupar-se apenas com a verdade e a justiça, sem se deter inclusive nas clássicas definicões do pecado, é bem a figura do Padre que V. Exa. poderia ou gostaria de ser, se fõsse católico. De qualquer sorte, é sintomático nota~ que o serviço dos homens e a busca de sua felicidade se realiza nessa peça através de um clérigo que, apesa1· de ?.vançado, constitui um dos traços mais característicos da Igreja institucional. A "Severa" é uma apologia da castidade monogâmica dentro do mais rígido esquema da moral cristã, e em "Lei é Lei" a a.ntevisão do céu do mendigo moribundo é uma cena de parusia cristã repleta de esperança. Quarta perna do nó - o TEATRO Os três roteiros anteriores que vocacionaram V. Exa. para a ,ida literária se corporificam e expressam no gênero teatro. Nenhum out:ro gênero podoria servir melhor aos seus propósitos do que aquêle cujos personagens vivem sua vida própria fora do autor e potlfm por isso co:n êle confabular, conspirar, podem confrontá-lo c u contestá-lo, podem interrogá-lo e acusá-lo, impelindo-o para um caminho cada vez mais exigente de auto-superação. o teatro que V. Exa. produziu até hoje, Senhor Acadêmico, t uma obra de início, quer pela sua idade quer pela sua capacidade de criação. Muito ainda se pode e deve esperar de V. Exa. no sentido de explicitar melhor as pernas do nó que o amarra, condu– zinêo êsses roteiros para novas e perturbadoras áimensões. Em qualquer hipótese pode-se afirmar sem mêdo que as interrogações :evadas por V. Exa. ao seu teatro, que os seus fantasmas interiores que vagueiam nas cenas de s uas peças, as dúvidas, as denúncias, oi; protestos, a con testa~ão de estruturas, o _depoimento humilde sôbre vidas humildes, os apelos velados ao engaJamento, a participação so– lrid:? do espectador nos dramas de rua, tudo isso já faz de seu teatrc um teatro vitorioso. Louis Jouvet escreve, numa antologia organizada flOT Hermilo Borba F:lho, o seguinte : "No teatro só existe um problema: é o problema do sucesso. -128 - 1 - -- - - - - - - --

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