Revista da Academia Paraense de Letras 1969 e 1971

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETR~S Segunda perna do nô - a TERRA O povo de set~ teatro, Senhor Acadêmico Nazareno Tourinho, é um povo situado e: datado, um povo de dimensões históricas e geo– ~áficas. É o nosso povo. E o nosso povo é o povo de nossa terra, ele nosso mundo. E êste mundo, fotografado em suas peças , é ine– gàvelmente a Ama·zónia. Um homem do povo é int.rinsecamente e, por coerência de es trutw·a - um homem da terra. O povo, para o artista dos textos literários e cênicos, não é uma abstração filosófica ou ideologica e muito menos uma referência demagógica. O povo, no seu sentido maic::; i:-uro e incontaminado, é o homem, - o homem <.onc-reto e substancial de nossa vida, o homem incorporado na terra. filho dá t erra, feito de terra e marcado pelo espírito, integrado em st'u habitat, mimeti-l;ado com o solo e o estrume, glória e miséria ao mesmo tempo, homem com raízes vincadas na sociedade, na familia, tipificado pela amb1r,ão e pelo sonho, esculturado pelo amor, homem– -pessoa, homem-carne, homem-paixão e homem-santidade. É por essa razão, Senhor Acadêmico, que não pôde fugir V. Exa. à contingência de aderir à terra e de fazer de suas peças um ato de amor à Am:17,ônia. Duas delas são a Amazônia histórica, em· born de uma his tória recente, da qual ainda sentimos o cheiro e a vertigem. "Severa Romana" e "O Heroi do Seringa!" representam acur:-idas pesquisas de natureza histórica e exigiram de V. Exa. exaus– t.ivo trabalho documimtal e coleta de informações orais. O "Nó" e "Lei é Lei" são a Amazônia de hoje, embora o primeiro não indique o lugar em que se passa o trama. No segundo, pela referência ao "Mário Pinoti", infere-se que a cena se passa em Belém. Essa Amazônia , capaz de gerar santas como Severa e monstros como o Coronel Polidoro, continua fiel ao seu passado e produz em nossos dias os santos e os pecadores do "Nó" e da "Lei é Lei". A terra dP. seu tea tro não é, pJrtanto, Senhor Acadêmico, a Amazônia material e lísica, gigantesca e deserta, selvática e luxuriante - na imagem superficial dos que pouco a conhecem. A terra de seu teatro não é geográfica mas ecológica e psicológica, exibindo o seu desenvolvi– mento nos tipos humanos que perambulam em suas cenas. Bertold Brecht, em seus "Estudos sôbre Teatro", responde a tuna pergunta de Dunenmatt, afirmando que o mundo de hoje pode, apesar de tudo, se..- reproduzido pelo teatro. E acrescenta: "Um1:1, co.iE=a fica, porém, ciesá e já, fora de dúvida : poderemos descrever o m :mdo atual ao homem atual, na medida somente em que o descre– veremos como un1 !'nundo passível de modificação". o mundo de c::;eu teatro, Senhor Acadêmico, é um mundo cheio de c01ú'litos e injusdças, mas não desprovido ·de esperança. Embora participe, em suas linhas gerais, do moderno teatro de protesto, na 126 - · •·

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